quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Mais uma vez o senhor Bolsonaro

É difícil para mim ouvir falar em intolerância sexual simplesmente porque é demasiado absurdo ainda hoje ter alguém que julgue e condene outro ser humano apenas por ele ser gay. A sexualidade de ninguém me diz respeito; pouco importa se fulano gosta de outro homem, se beltrana tem tesão em outra mulher, e se o ciclano gosta de ambos os sexos. Honestamente, o que que eu tenho com isso? E mais: a vida homossexual de alguém, por que cargas d'água, desqualifica esse alguém?? Quer dizer que uma pessoa, super competente no que faz, extremamente qualificada, honesta, eleitora e vacinada, depois de assumir seu homossexualismo vai perder todas as suas qualidades apenas porque...? Pois é, por que o quê?? Também não consigo entender tamanho rebuliço que o chamado kit gay ainda causa. Podemos até questionar se a escola é o espaço mais adequado para se tratar o assunto, se não seria mais producente que cada família educasse seus filhos de modo a ensinar o óbvio: não devemos ter qualquer tipo de preconceito, seja ele racial, sexual, religioso etc., mas daí a condenar de uma maneira ferrenha o kit gay porque ele seria responsável por "desvirtuar" nossos alunos e transformá-los em gays em potencial é demais, não é não? Será que em "nome de Deus" é preferível assistirmos agressões a homossexuais desde que a moral e os bons costumes permaneçam intocáveis? A família brasileira estaria com seus dias contados se olharmos outro ser humano, igual a nós em tudo, mas que tem desejo pelo mesmo sexo, com respeito, acreditando ser ele embaixador do diabo?
Tudo isso porque, na capa do JB, o senhor Bolsonaro mais uma vez é manchete. Em discurso inflamado, cobra da presidente Dilma explicações sobre o kit gay, responsabilizando-o se nossas crianças todas virarem gays por conta dessa má influência. Acho que mais do que ficar esperneando por causa de um moralismo babaca, tem gente que faria muito melhor em sair do armário e tirar, assim, esse peso das costas.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Cansaço

A lembrança mais remota que eu tenho sobre política remonta à abertura política do país e à campanha Diretas Já. Ainda criança, não tinha real dimensão do que estava acontecendo, mas sabia que era alguma coisa muito importante. Isso porque meus pais acompanhavam tudo o que acontecia com duas televisões ligadas na sala em canais diferentes para não perder detalhe algum. Sentia-me importante assistindo à votação indireta que elegeria Tancredo Neves nosso novo presidente após anos de ditadura militar, e ouvindo com atenção os comentários de meu pai.
Alguns anos depois, a eleição que primeiro recebeu minha participação, apesar de ainda não ter idade para votar, foi a que Lula saiu derrotado pelo Collor. Com quinze anos de idade, lamentei não poder votar no Lula, mas militei como pude a seu favor. Eu e todas as pessoas que, na minha opinião, tinham bom senso.
Já na faculdade, dei aulas voluntariamente durante cinco anos em presídios porque acreditava que a educação era uma arma poderosíssima para mudar não apenas a realidade dos apenados, mas a realidade de toda a nossa sociedade. Assim, ingressei em um projeto político, porém não partidário, coordenado pela Regina Brasil, que visava, mais do que ensinar o conteúdo programático aos detentos, levar cidadania e reflexão aos alunos. Foi lá, inclusive, que conheci o Marcelo Freixo, então professor de História.
Foi ele, aliás, quem recebeu meu único voto nas últimas eleições. Para os demais cargos, não tive dúvidas quanto à anulação. Minha mais que curta atuação política já se cansou e se desiludiu com os nossos políticos de um modo geral. Sei que não se pode generalizar, que não dá para dizer que todos os políticos são corruptos, safados e filhos da puta - o Marcelo Freixo, a meu ver, é prova disso -, mas, convenhamos, fica difícil. Como fica difícil também entender como "eles" continuam sendo eleitos. Muitas vezes, dependendo de meu humor, acredito que a população merece passar pelo que passa, afinal, foi ela que colocou no poder nossos governantes. O problema, claro, é que a minoria se dá mal por tabela.
Faço essa retrospectiva porque estou cansado. Cansei de votar, de acreditar, de ter esperanças. Honestamente, acho meu país uma vergonha. Não tenho nenhum orgulho de ser brasileiro, ao contrário, sinto vergonha. É um país lindo etc. e tal, mas e daí? Já não deu tempo para sua população querer deixar de ter vantagem em tudo? Já não é hora de olharmos para o lado e pensarmos no bem-estar coletivo? Até quando vamos seguir acreditando que se a farinha é pouca, meu pirão primeiro? Penso que na realidade nossos governantes espelham o que é nossa sociedade. Não é muito difícil encontrar, em qualquer esquina, um brasileiro que não pense primeiro em si. Acho que é por isso, inclusive, que quando alguém devolve o troco, ou uma quantia grande em dinheiro que não lhe pertence, passa a ser manchete de todos os telejornais. Ora, por quê? Ele não fez mais do que sua obrigação. São fruto dessa mentalidade tacanha nossos políticos, via de regra.
Tenho certeza, falando de nossos políticos, que se o Brasil tiver decência e vergonha na cara e diminuir os custos que cada deputado dá aos cofres públicos, Brasília ficará entregue às moscas. Apenas aqueles que fazem a coisa certa pelo motivo certo continuarão atuando, sem querer mamar nas tetas do Estado. O problema é óbvio: os nossos ilustres deputados e senadores terão a dignidade de cortar suas regalias? Não. E assim seguimos todos, a maioria precisando trabalhar para honrar seus compromissos, e a minoria, porque está a "serviço do povo", com inúmeros privilégios. Há 36 anos ouço que o Brasil é o país do futuro. O problema é que o futuro nunca chega. Não tenho mais o ânimo e o entusiasmo de meu pai, que ainda luta e acredita em dias melhores; eu cansei.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O que dizer?

Todo Brasil, e em especial a sociedade civil fluminense, se solidarizou com as cidades serranas atingidas pelas tempestades que as arrasaram no início do ano. Nada mais natural para qualquer pessoa do que estender a mão para quem perdeu tudo e necessita de ajuda. Palavras como solidariedade, ajuda, caridade, apoio, altruísmo saíram dos dicionários e foram postas em prática. Tudo em prol do próximo que, atingido por um catástrofe natural, não tinha a quem recorrer. Mas, infelizmente, nem todos compactuam desse esforço filantrópico. É claro que não estou a cobrar que todos façam doações, que ponham a mão na massa e trabalhem como voluntários desinteressados sempre que alguém necessite de ajuda. Não, não é isso. Mas o que dizer do prefeito de Teresópolis? O Sr. Jorge Mário Sedlacek teve seu mandato finalmente cassado após desviar verba destinada à reconstrução da cidade. Não sei quanto ganha mensalmente o prefeito de Teresópolis, mas tenho certeza de que é suficiente para se viver com conforto e dignidade, sem necessitar recorrer a atividades espúrias. Depois de se eleger pelo voto direto da população de Teresópolis, de se comprometer a trabalhar em benefício de sua cidade, os recursos que deveriam amenizar o sofrimento das vítimas das chuvas de janeiro engordavam a conta bancária do senhor Jorge Mário. Não esqueçamos seu nome: Jorge Mário Sedlacek.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Promovido

Se eu for escrever sobre cada coisa que me causa algum tipo de descontentamento, indignação, revolta, etc., vou passar o dia me ocupando do blog e não terei mais tempo para nada. Mas como não mencionar a promoção que o então capitão da PM Bruno Schorcht recebeu, subindo sua patente para major? Para quem não se lembra, durante manifestação de moradores do Morro do Bumba, em Niterói, que não recebiam o aluguel social depois da tragédia que os acometeu, os policiais Bruno Shorcht e D'Angelo de Matos Pinel foram flagrados jogando spray de pimenta em crianças. Sim, em crianças! O primeiro agora já é major; o então soldado D'Angelo também deve aguardar promoção?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Tudo ao contrário

Após presidir a CPI das Milícias e, com isso, indiciar cerca de 220 pessoas, Marcelo Freixo, deputado estadual pelo PSOL, tem sofrido ameaças de morte. De acordo com notícia publicada hoje no JB, Freixo deve deixar o país ainda nesta terça-feira, com destino desconhecido para preservar a sua segurança. Li a matéria e fiquei me perguntando se não está tudo ao contrário. Quem deveria fugir, numa sociedade que funcionasse (muito diferente da nossa), seriam os milicianos, não o deputado. Os bandidos, com medo da prisão, deveriam se por em fuga, deixando para trás a possibilidade de verem a justiça ser feita, ou seja, de perderem sua liberdade e cumprirem penas duras. Mas, mesmo quando criminosos, no Brasil, são indiciados, julgados, condenados e presos, devido a privilégios como a visita periódica ao lar, a saída por bom comportamento, independente de sua periculosidade, e o regime semiaberto, os detentos encontram facilidades de fuga e regalias na cadeia, sem falar dos crimes que são orquestrados e cometidos de dentro do próprio presídio. Sei que nossas penitenciárias não fornecem condições mínimas para um homem que tenha errado e precise quitar seu débito com a sociedade se regenere, mas isso não deve ser justificativa para a bagunça que muitas vezes é noticiada pela imprensa - sem falar das que não o são.
Marcelo Freixo teve a coragem necessária para enfrentar o problema da milícia, mas parece que, por falta de segurança e inoperância do poder público, ele vai pagar caro por isso. Que, pelo menos, ele não tenha o mesmo fim que a juíza Patrícia Acioli, e que possa retornar ao país, com segurança garantida pelo Estado, para dar continuidade a sua atuação política. No Brasil, os mocinhos fogem - ou são mortos - e os bandidos permanecem perturbando a ordem.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Maconha na USP

Boa tarde, sejam bem-vindos!
Observando a vida e o que acontece ao meu redor, venho agora registrar minhas opiniões de uma maneira mais explícita. Devo dizer, antes que você decida prosseguir, que muitas vezes sou um cara bastante ranzinza, mal-humorado, crítico e nada orgulhoso de meu país. Também sou, por outro lado, alegre, jovial, justo e, principalmente, pai de duas princesinhas lindas. Mas aqui as princesinhas não terão muita vez não. Nem minhas considerações acerca da minha vida cultural. Aqui quero colocar a boca no trombone, reclamar, aliviar minha (futura) hipertensão. Aqui a primeira pessoa é outra.
E o tema que me motivou a abrir este novo blog foi noticiado pelo Jornal Hoje, agora à tarde. Fazendo a digestão de meu saboroso almoço, vi na tevê alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, simplesmente a maior universidade do Brasil, se revoltarem contra a polícia e ocuparem a reitoria porque três alunos teriam sido detidos por posse de maconha. Os demais alunos, indignados com a apreensão, entraram em confronto com a polícia e afirmaram só desocupar a reitoria depois que a PM abandonar a segurança que promove no campus. Como assim? Fiquei me perguntando por que diabos os alunos não querem a PM por perto. Seria para poder fumar maconha em paz? Eu não tenho nada contra quem fuma maconha nem contra a maconha, eu mesmo já fui graduando e já, como boa parte dos jovens fazem - e aparentemente todos os alunos da referida faculdade - enrolei meus cigarrinhos. Nada demais. Acontece que nem todo mundo pensa assim. E, falando em leis, a do nosso país considera a maconha uma erva ilegal. Ou seja, gostando ou não, concordando ou não, é ilegal fumar maconha. Podemos até questionar se os usuários devem ser apreendidos, se não seria mais racional a polícia se preocupar em prender os traficantes, deixando os pobres estudantes para lá, dando um dois sem muita importância. Que se faça, então, a passeata em favor da liberação da maconha, que se elejam representantes dispostos a debater o assunto, mas exigir que a polícia abandone o campus da universidade é demasiada estupidez. É certo, todos sabemos disso, que a polícia em nosso país não tem muito crédito, é corrupta e muitas vezes se confunde com os bandidos, mas ela ainda é a responsável por nossa segurança. Abrir mão da PM no campus não seria uma carta branca para que toda sorte de delitos sejam cometidos na USP? Não seria, em clara manifestação de apoio, concordar com assaltos, estupros, latrocínios? E isso para que os universitários possam fumar maconha sem serem infortunados?
Eu sei que essa discussão não é simples. A questão da droga esbarra em muita coisa, a da segurança também, mas quero crer que é preferível um campus bem policiado, para que o corpo discente se preocupe apenas com o que é relevante, a saber, a construção de conhecimento que deve ser oferecido por qualquer universidade, a deixar que a recreação emaconhada de uns poucos coloque em alerta toda a população do campus. Como diria um grande amigo meu: "Francamente!"