quinta-feira, 26 de abril de 2012

Alimentando o espírito...

Quando estava para terminar o então segundo grau, meu padrinho, Augusto Martins, tentou incansavelmente, de várias maneiras, me convencer a prestar vestibular para Direito. Eu dizia que queria fazer ou Música ou Letras e, impaciente, o sábio Augusto dizia que primeiro deveríamos alimentar a barriga para só então alimentar o espírito. Argumentava ele que fazendo Letras ou Música eu poderia alimentar meu espírito, mas a fome me lembraria diariamente minha péssima escolha. Fiz Letras e não sei se concordo com meu padrinho. Não passo fome, mas não estou tão bem como amigos meus advogados.
E se advogado eu fosse, poderia dedicar minha carreira a convencer as autoridades da inocência de meus clientes que, mesmo flagrados em vídeos mais do que comprometedores, estavam, vejam vocês, a dizer tão-somente bravatas!
Aí me pergunto se é preciso realmente fazer anos de faculdade de Direito para aprender a ser tão cara de pau. Talvez a cara de pau seja inata a muitos seres humanos, mas a faculdade os ajudaria com doses refinadas de requinte. E, convenhamos, um belo terno ajudaria bastante.
Empresários foram flagrados afirmando com todas as letras que possuem um esquema para fraudar licitações? Chama o advogado que ele vai explicar que tudo não passou de bravata. Diretores de empresas até então tidas como idôneas aparecem em vídeos comprometedores explicando de que modo é possível desviar o dinheiro público? Não é nada disso do que vocês estão pensando, era só bravata.
Aí, eu, que, como a maioria da população, devo ser considerado idiota, me pergunto: será que eu posso também dizer um monte de sandice por aí e depois, se for acusado de alguma coisa, se meu discurso merecer alguma punição, se minhas atitudes tiverem consequências, posso simplesmente dizer, com a maior calma do mundo, que tudo não passou de bravata? Será?