tag:blogger.com,1999:blog-49119409577720092272024-03-08T16:58:20.394-03:00Editorial Primeira PessoaBruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.comBlogger24125tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-79499747556076689722015-02-15T20:14:00.004-02:002015-02-15T20:14:54.376-02:00Sempre tem o mais fraco<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #141823; line-height: 19.3199996948242px;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Há cerca de três ou quatro anos, a vizinha do apartamento de cima se refugiou aqui em casa para escapar de mais uma surra que seu então marido iria lhe dar. Oferecemos todo apoio possível, ela não apanhou naquele dia e, parece-me, não mais, haja vista que se separou do agressor. Mais um dentre tantos casos de uma "minoria" mais fraca que sofre com a covardia do mais forte. Mas sempre há aquele que é ainda mais fraco. </span></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #141823; line-height: 19.3199996948242px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.3199996948242px;">Soube ontem pela subsíndica que a tal vizinha protagonizar</span><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 19.3199996948242px;">a mais um caso de covardia, mas agora como agressora. Ela, ao entrar no edifício, se indignou porque nossa empregada doméstica negra e grávida estava sentada num dos bancos da portaria de short e com a barriga de quase oito meses de fora. Ela não poderia estar ali, muito menos, no calor do Rio de Janeiro, trajando um short e uma camiseta. Nossa empregada, segundo a subsíndica, fora confundida com uma moradora de rua e tratada como tal, o que evidencia o tratamento diferenciado que as pessoas sofrem a depender de status social e raça. Talvez, na cabeça de minha vizinha, negros só possam ser desabrigados, quando muito favelados. </span></div>
</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; line-height: 19.3199996948242px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.3199996948242px;">A subsíndica, que me contava tudo muito constrangida, também estava com um short jeans curtíssimo e de camiseta, fato observado por mim. Mas é branca, o que faz toda diferença do mundo. Posicionei-me, disse que não toleraria discriminação racial ou de qualquer outra ordem e tranquilizei nossa empregada contra qualquer possível futura atitude racista.</span><span style="line-height: 19.3199996948242px;"> </span></div>
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<span style="line-height: 19.3199996948242px;">Há quem ache que mulher pode apanhar porque seria subserviente; há quem associe negro a moradores de rua e ainda se acha no direito de humilhá-lo; eu acho que todas as agressões são da mesma quadrilha.</span></div>
</span></span>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-37168624733408437522014-06-18T14:00:00.001-03:002014-06-18T14:00:27.868-03:00"Não vai ter Copa" é motivo de piada (?!)<div style="text-align: justify;">
Muitos gritaram e ainda gritam que não vai ter Copa. Tal grito não é ingênuo, a Copa está acontecendo e consigo muitas repressões e violência. Apesar disso, ainda há pessoas dispostas a irem para as ruas gritar que não vai ter Copa, demonstrando sua insatisfação com a forma como o mundial foi organizado e tudo de negativo que o padrão FIFA de qualidade nos trouxe. Particularmente, não me surpreendo nem tampouco me escandalizo com as manifestações anti-Copa, pois delas faço parte e acredito que tenho esse direito. Também acredito no direito dos entusiastas da Copa em querer assisti-la e torcer pelo Brasil. Nenhum problema nisso. O problema, a meu ver, é quando estes entusiastas riem e ridicularizam o grito "Não vai ter Copa" ou seus correlatos, escarnecendo de seu "fracasso", pois Copa há. Poderiam me perguntar, então, qual o problema de fazer piada sobre a afirmação convicta de que não haveria Copa.</div>
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Em primeiro lugar, responderia que as brincadeiras em tom de "vitória" dos pró-Copa denotariam ignorância no que diz respeito ao grito "Não vai ter Copa". Quem entoa esse jargão antes se posiciona politicamente do que, como um oráculo, previa uma verdade incontornável. O grito que ainda se ouve é contra a higienização da cidade em favor de poucos; contra a remoção de inúmeras famílias que já eram e permanecem desassistidas; contra a violência do Estado, que parece ignorar para quem governa; contra o superfaturamento das obras, algumas inacabadas; contra a elitização do futebol, paixão nacional, irrestrita a uma elite branca e "comportada"; contra a FIFA e todos os seus mandos e desmandos etc. etc. No final das contas, o grito também é a favor de saúde, educação, transporte, segurança, habitação, alimentação, demarcação de terras indígenas etc., esses sim padrão FIFA, mas ainda distantes - e muito - de se tornarem realidade.</div>
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Em segundo lugar, a ironia em torno da realização da Copa me faz questionar o espírito nacionalista daqueles que veem na seleção brasileira um orgulho patriótico. Não há problema em torcer pelo Brasil, mas me parece um contrassenso fazer isso enquanto brasileiros são presos arbitrariamente, são atacados pela polícia militar e pela Força Nacional, respiram gás de pimenta e são atingidos por balas de borracha, cassetetes, estilhaços de bombas e até por tiros de armas letais. Como poderia rir de uma situação dessas? E já não é mais o caso de uma ignorância guiada pelos meios de comunicação, haja vista que as mídias alternativas, via internet, denunciam e mostram - há muito - o que é silenciado pela chamada mídia hegemônica, além do escárnio dos pró-Copa ser publicado em redes sociais, onde é possível ter acesso a toda sorte de arbitrariedade cometida contra manifestantes. Não é por desconhecimento do que ocorre nas ruas, portanto.</div>
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Quem ri do caos em que vivemos, do estado de exceção em que nos vemos, porque a Copa está acontecendo, concorda com a violência praticada contra quem a ela se opõe; desinteressa-se pela melhoria nos setores essenciais para quem não tem condição de pagar; e reclama que negros e pobres passeiem em seus shopping centers. O grito NÃO VAI TER COPA é a favor do Brasil e dos brasileiros, os mesmos que não têm condição alguma de pagar o ingresso para entrar nos estádios padrão FIFA e continuam, dentre outros serviços, sem saúde, pois a Copa não é feita de hospitais.</div>
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A julgar pela decoração das ruas e pelo entusiasmo da população, a Copa que está acontecendo já não houve. </div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-87805864968925991182014-05-16T13:20:00.000-03:002014-05-16T13:20:33.473-03:00Pra não dizer que não falei de espinhos<div style="text-align: justify;">
Desde sempre votei no PT, apesar de na última eleição ter votado não na Dilma, mas contra o PSDB. Dilma muito provavelmente será reeleita, mas dessa vez sem meu voto. Nas próximas eleições, não votarei em ninguém. Não pretendo negar as coisas boas que o PT fez, primeiro com Lula e agora com Dilma. Sim, houve acertos, não há dúvida. Estamos melhores agora do que jamais estivemos. Entretanto, muitos foram os erros e as alianças equivocadas, na minha opinião imperdoáveis, principalmente se levarmos em conta toda a expectativa que havia de mudanças sociais com a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder. Doze anos e muita frustração depois, o grande partido de esquerda que tínhamos endireitou-se e anda de braços dados com os mesmos de sempre, aqueles mesmos combatidos outrora pelo PT. </div>
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Os petistas, talvez ainda sem saber como defender seu partido, limitam-se a comparar os anos FHC com a era Lula. Ok, é uma comparação fácil demais de ser vencida. Seria muito difícil o PT conseguir ir aquém dos tucanos. Qualquer tentativa de se criticar a situação é rapidamente rebatida com gráficos ilustrativos que evidenciam como o país cresceu mais com o PT na presidência. A autocrítica fica onde? A meu ver, o grande mérito do PT, mediante a defesa comparativa, é extrínseco ao partido, isto é, aquilo de mais importante dos governos Lula e Dilma está neles não serem do PSDB. Muito pouco, em minha avaliação. Toda - ou quase toda - virtude petista reside na comparação com o principal partido de oposição, que, aliás, não apresenta nenhuma proposta séria e consistente para o país. Desse modo fica fácil a reeleição e torna-se mais rápida e certeira a defesa comparativa. Penso que os votos do PT deveriam ser consequência de sua política, não apenas o medo do retorno do PSDB ao governo. O lema parece ser: "Está ruim, mas pode ficar pior".</div>
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Na esteira das comparações, pululam nas redes sociais ilustrações e gráficos indicativos do avanço da economia brasileira, não apenas PT versus PSDB, mas mostrando, via gráficos e números, o inegável salto qualitativo do padrão de vida no Brasil. Não entendo nada de números, de economia, de cálculos, de percentuais. Mas dizem que a matemática não mente; eu diria que ela apenas ilude, afinal de contas, vivo no Brasil e vejo as condições em que um número expressivo de brasileiros sobrevive. Nossa economia cresceria mais do que a de países desenvolvidos, como Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo. Como disse, não entendo de economia nem de números. Mas me parece que tem alguma coisa errada nessa avaliação. Nossos serviços básicos continuam caóticos. Quem necessita de educação, saúde, transporte, segurança públicos está entregue à própria sorte. Do que adianta aumento de poder de compra por parte da população se ela continua desprovida do essencial. Nossos hospitais públicos são vergonhosos: faltam profissionais, vagas, medicamentos, instrumentos, etc. Com a educação ocorre o mesmo. </div>
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Há quem diga que o problema não é partidário, mas do sistema e, enquanto vivermos no capitalismo, governo após governo padecerá do mesmo mal, ou melhor, fará o mesmo mal à população. Assim, pouco importaria a autonomeação de partido de esquerda se, no final das contas, uma vez no poder, e para se manter no poder, faz-se necessário aliar-se à direita. Hoje não consigo entender o medo que a "esquerda" tem do retorno da direita se esta nunca deixou Brasília. A equivalência entre esquerda e direita é tão gritante que, se passarmos para os planos estaduais, não distinguiremos muita coisa de um governador da oposição e outro da situação. Para finalizar, meu medo não é o retorno indesejado do PSDB, mas que continuemos a viver da mesma forma, sem saúde, educação, transporte, segurança, moradia, alimentação, enfim, dignidade. </div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-70893653077879999162014-05-10T12:06:00.000-03:002014-05-10T12:06:17.603-03:00Resposta a Rica Perrone* - Não vai ter Copa<div style="text-align: justify;">
Bem, estamos a pouco mais de um mês para o início da Copa. Sim, ela vai acontecer independentemente dos gritos de "Não vai ter Copa", "Copa pra quem?" ou algum outro equivalente. Seria, no mínimo, muita ingenuidade acreditar que, às vésperas de um dos mais lucrativos eventos mundiais, simplesmente por causa de uns poucos oposicionistas, a Fifa se despedisse do Brasil. Mais ingenuidade seria crer que, dessa maneira, todo dinheiro gasto e ainda por gastar com a Copa redundaria em benefícios para a população. Francamente, todos sabemos que a população nunca, ou raramente, é beneficiada, basta ver nossos hospitais e escolas, para não estender aos demais serviços públicos.</div>
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Li há pouco o texto "Odeie a Copa", escrito por Rica Perrone, no qual ele, a meu ver, equivoca-se muitas vezes. Segundo o autor, a Copa vai sim acontecer, e nisso concordo com ele, naturalmente. Mas discordo que ela "vai deixar todo mundo maluco com a ideia de termos a maior competição de futebol do planeta em nossa terra". Os índices de desaprovação da Copa são altos, apesar do futebol ser o esporte mais popular de nosso país. Aliás, vale lembrar, Rica Perrone, que o grito de Não vai ter Copa é antes um posicionamento político do que propriamente assistir ou não aos jogos ou torcer contra o Brasil. A esse respeito, inclusive, muito tem se discutido nas redes sociais que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Gritamos que não vai ter Copa porque vivemos em um país em que verba nenhuma é destinada às necessidades fundamentais da população, mas que muito dinheiro ergueu estádios que, após a Copa, serão enormes elefantes brancos, posto que situados em estados que não têm uma tradição futebolística capaz de enchê-los durante as competições locais.</div>
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Sim, há muita gente apaixonada e engajada em movimentos anti-Copa, também concordo nesse ponto. Estas pessoas, porém, apesar de serem ostensivamente agredidas pela polícia nas ruas e estigmatizadas pela imprensa, mantêm sua convicção. Quer torcer pela Copa, Rica Perrone? À vontade, mas acho estranho que um grupo a priori pequeno de militantes abale sua confiança em ver uma Copa que deixará "todo mundo maluco" com a maior competição mundial de futebol. Parece haver um contrassenso aí, não? Todo mundo vai ficar maluco com a Copa mas, ao mesmo tempo, já se sente desconfortável em torcer pela seleção antes mesmo dela começar? Ficou confuso para mim.</div>
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Outra coisa: talvez o que de mais apaixonante haja no futebol - sim, adoro futebol - é a provocação sadia entre torcidas rivais após um jogo. Discute-se se houve erro do árbitro, se houve recurso ao tapetão etc. Essa paixão deve ser restrita ao futebol? Não se pode discutir apaixonadamente se haverá Copa ou não? Ou melhor, quais os reais benefícios que a Copa trouxe para o Brasil e qual será nosso legado? Nisso parece que não pode haver voz discordante na sua opinião. Pois grite que haverá Copa, que é um torcedor entusiasta, ninguém te impedirá.</div>
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Para finalizar, caro Rica Perrone, achei suas insinuações sobre a corrupção velada dos manifestantes anti-Copa descabida. Baseado em que você sugere que todos falsificamos carteiras de estudantes para irmos ao cinema? Faltaram-lhe argumentos ou você acha por bem colocar tudo e todos sob o mesmo rótulo que você, ironicamente, condena em seu texto?</div>
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Muito ainda tenho para escrever sobre o porquê de não querermos Copa, mas fica o convite para o diálogo. E repito: o grito Não vai ter Copa é, sobretudo, uma tomada de posição, pois todos sabemos que haverá Copa. Defenda a sua posição e não se cale perante a oposição ora pois. </div>
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_________________</div>
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* quem tiver interesse em ler o texto de Rica Perrone, basta clicar <a href="http://www.ricaperrone.com.br/odeie-a-copa/" target="_blank">aqui</a>.</div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-29394058634483280032014-03-01T17:38:00.002-03:002014-03-01T17:50:28.625-03:00Filhinhos de papai ou a burguesia ainda fede<div style="text-align: justify;">
Cazuza cantou que a "burguesia fede". Naquela época, recordo-me de ter ouvido críticas tais como: "um absurdo, o maior burguesinho falando da burguesia", "dizer que a burguesia fede, sendo filho de quem é, é mole" e outras nesse sentido. Isso significa por acaso que a burguesia não pode ser criticada por burgueses que conseguem enxergar todas as suas mazelas? Por burgueses dispostos a tentar mudar o cenário mesmo que provenham deste mesmo sistema cruel e absurdo?</div>
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Rememoro os ataques feitos a Cazuza porque é muito comum ouvir, por exemplo, que os Black Blocs e/ou os manifestantes que ocupam as ruas desde junho são todos filhinhos de papai, isto é, não merecem ser levados a sério. Em primeiro lugar, tal afirmação denota um amplo desconhecimento dos movimentos populares e de quem deles faz parte. Mas suponhamos que, sim, sejamos todos filhinhos de papai ou burguesinhos sem a mínima capacidade reflexiva sobre nossa política e seus rumos distorcidos. Isso nos faz incapazes de reivindicar melhorias em setores como saúde, educação, transportes, segurança, moradia, saneamento básico e que também sejamos contra a Copa? Mesmo que tais pautas não sejam, a priori, um problema para a burguesia, sentada em seu berço esplêndido? Que bom que há tantos "filhinhos de papai" descontentes com a desigualdade social e atentos aos desmandos de nossos governantes, reivindicando melhorias na qualidade de vida para os não burgueses.</div>
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Tais críticas, a meu ver, são uma forma da própria burguesia - ou ao menos de uma parte conservadora e reacionária - perpetuar o status quo, desqualificando os atores sociais engajados nas lutas. Explico melhor: as reivindicações não poderiam surgir de dentro da própria burguesia justamente por serem filhinhos de papai, isto é, pessoas alienadas que nunca precisaram trabalhar, pegar ônibus e trens lotados etc. Assim, ao adjetivar os manifestantes com essa alcunha, busca-se simplesmente despolitizar as manifestações e enfraquecê-la. O que os conservadores diriam, nas entrelinhas, é que qualquer tentativa de mudança social deveria partir das classes menos favorecidas, estas sim carentes das pautas levantadas nas ruas. Mas é aí que entra, na minha opinião, a crueldade de nosso sistema, porque do mesmo modo que a pecha de "filhinhos de papai" não leva a sério os gritos das passeatas, se fossem os moradores de comunidades, por exemplo, a entoar os mesmos gritos, prontamente se diria que não passam de analfabetos políticos que estão a serviço do tráfico. Ou que deveriam trabalhar mais ao invés de interditarem as vias da cidade reclamando algo que nunca lhes pertenceu e que assim é. Ou, ainda, que deveriam ter estudado e que agora não adianta reclamar. Mais ainda: a repressão policial seria mais ostensiva e ninguém reclamaria o sumiço de tantos Amarildos, como, aliás, acontece diariamente desde sempre.</div>
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Parece que a palavra de ordem é que não haja desordem, que ninguém ouse interferir no modus operandi burguês para que este siga inclemente em uma cidade excludente, onde pobres e negros se restrinjam às favelas e à periferia e não tenham a audácia de querer acesso a hospitais, escolas, lazer, shopping centers etc. Que os pobres e negros continuem a ser mão de obra barata para o conforto da classe média acostumada ao seu padrão de vida.</div>
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O que as ruas vêm dizendo é que o poder é do povo. Desse modo, é para o povo que as ações governamentais deveriam ser dirigidas, diminuindo as diferenças de classes. Sou uma dessas vozes nas ruas, e sou filho da classe média. Isso me descredencia? A propósito, não sou tolo o suficiente para achar que as manifestações são compostas só por filhinhos de papai. Quem está nas ruas sabe a diversidade das vozes que se articulam em prol de uma coletividade. As mudanças podem até não acontecer, mas continuemos a gritar, sejamos ricos, pobres, brancos, negros, burgueses, proletários, afinal, o poder é do povo. E ignoremos os rótulos desqualificadores dados por senhores conservadores e, sobretudo, ignorantes do que de fato ocorre.<br />
Para finalizar estas concisas reflexões, não seria estranho que a mídia hegemônica, que atende aos interesses dominantes, dia após dia deturpe as informações que chegam ao público de modo a criminalizar as manifestações, orquestradas por vândalos, e que os midiativistas sejam ostensivamente obstruídos de levar uma versão menos comprometida e mais fidedigna com o que ocorre nas ruas? Para que haja uma mudança substancial em nossa sociedade, faz-se imprescindível a mudança do sistema.</div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-84891567711371211482014-02-07T14:57:00.001-02:002014-02-07T14:57:52.653-02:00Diário de bordo - Central do Brasil (06/02/14)<div style="text-align: justify;">
Ontem eu fui à Candelária protestar contra o aumento das passagens e não fui sozinho. Não sei precisar o número exato de manifestantes, mas por baixo arriscaria a dizer que pelo menos 5000 pessoas também compareceram. Por que haveria de ter tanta gente insatisfeita, para não dizer indignada, com a nova tarifa de 3 reais para os ônibus? A resposta é mais do que simples: porque o nosso transporte público é de péssima qualidade. Nossos ônibus não tem ar-condicionado, o que poderia ser um luxo não fosse o calor infernal do Rio de Janeiro. Duvido que alguém considere luxo a calefação em cidades como Toronto... Mas não é só isso. Quem necessita dos ônibus para se locomover sofre com atrasos, com poucos veículos e, portanto, com super lotação; sofre também à espera dos ônibus que se negam a parar para idosos e estudantes, com ruas mal pavimentadas, com a dupla função de motorista e cobrador. Talvez para quem mora na zona sul o serviço não se mostre tão precário - como em todos os aspectos, aliás -, mas a zona sul é uma pequena parcela da cidade, minoritária. Não bastasse isso, temos a CPI dos ônibus que não deu em nada, as regalias concedidas aos empresários do setor etc.</div>
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Os ônibus, porém, não são o único meio de transporte coletivo que apresenta problemas. Por isso, da Candelária caminhamos para a Central do Brasil, já que a Supervia, como também o metrô, parece brincar de desrespeitar seus usuários cotidianamente. Elencar os problemas que os trens oferecem pode ser redundância e, como todos já os conhecem, me absterei de enumerá-los. O que posso dizer, como alguém que esteve presente ontem na Central, é que os manifestantes que se fizeram presentes mais uma vez organizaram um catracaço porque entendemos que o transporte público deveria ser gratuito, haja vista o valor excessivo de impostos que todos pagamos diariamente e o pouco caso das autoridades em todos os serviços públicos essenciais ao bem-estar da população, tais como saúde, educação, moradia, saneamento básico, transporte e segurança. E, falando em segurança, chego enfim a mais um ato de despreparo e covardia da Polícia Militar.</div>
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Menos de cinco minutos após entrar na Central, começou o primeiro corre-corre. Em seguida, a primeira bomba explodiu, logo após várias outras. Vi pessoas gravemente feridas, tanto dentro como fora da Central, à espera de ambulâncias que não chegavam. A sorte, para falar de um caso que acompanhei mais de perto, foi a pronta ajuda dos socorristas. Tratava-se de uma passageira que, devido a um estilhaço de uma janela que explodiu em função de uma bomba, teve um corte muito profundo no braço e perdeu bastante sangue. Mais de uma hora depois ela conseguiu, finalmente, ser levada numa maca para atendimento mais adequado. Aqui, deixo uma nota de reconhecimento e de agradecimento ao trabalho dos socorristas. </div>
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Enquanto esperávamos uma maca ou ambulância chegarem, pude dizer a uma funcionária da Supervia que era inadmissível o que estava acontecendo ali, mas obtive o silêncio como resposta. Lá fora, o Batalhão de Choque continuava com seu <i>modus operandi</i>. Bombas, gás, porrada, prisões arbitrárias.</div>
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Presenciei o desespero da população, já tão desrespeitada diariamente em todos os seus direitos, e tentei ajudar da melhor maneira possível: oferecendo leite de magnésia para atenuar a ardência nos olhos decorrente do gás, emprestando meus óculos de proteção para uma menina de sete anos, aproximadamente, ao lado de uma mãe angustiada, e as levei para dentro do trem, como algumas outras pessoas, aturdidas com tamanha violência e covardia. </div>
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O clima dentro da Central era muito tenso, principalmente porque não sabíamos ao certo o que estava acontecendo do lado de fora. Quando finalmente consegui sair, vi o caos. Muita polícia, entre a montada e o Choque, mais pessoas feridas e, à medida que encontrava pessoas conhecidas, me informava do que havia acontecido - e as notícias não eram nada agradáveis. Helicópteros da imprensa sobrevoavam o local (para dar a <i>sua </i>versão deturpada dos fatos). Da Central, caminhei com uns amigos até a Cinelândia, para onde os manifestantes se dirigiram. Quando lá cheguei, fiquei assustado com o número excessivo de polícia, que eu só vejo em manifestações populares, mas não enxergo no dia a dia, propiciando casos de violência e assaltos contra moradores e, mais recentemente, a organização de grupos "justiceiros", que se acham no direito de fazer justiça com as próprias mãos, uma vez que a polícia não faz a sua parte - e com faria se desloca uma grande parcela de seu contingente para repreender manifestantes?</div>
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Enquanto a população sofre com o transporte público, há quem anda de helicóptero para evitar o trânsito do Leblon para Laranjeiras e há aqueles que acreditam não passarmos de vândalos... O que é vandalismo afinal?</div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-68727100995662449002013-10-17T02:04:00.002-03:002013-10-17T02:04:47.000-03:00A violência político-militar no Rio de Janeiro<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Fico me perguntando qual o motivo da polícia militar - a despeito de ser militar - usar tanta violência contra os manifestantes. Alguns poderiam dizer, convictamente, que é tão-somente por causa de um grupo de vândalos. Dito isso, a resposta estaria dada e a violência justificada. Mas, supondo que isso encerrasse a questão, o uso excessivo da força policial não alarmaria a população por quê? Os moradores de Laranjeiras, por exemplo, já sofreram mais de uma vez e, principalmente, já presenciaram o que a polícia faz contra manifestantes ou não, Black Blocs ou não. A violência da polícia militar do Rio de Janeiro - a mais violenta do mundo - já não se restringe às favelas e/ou aos bairros do subúrbio, locais onde, desde sempre, a polícia fez o que quis porque, no final das contas, os mortos eram negros, pobres e, no frigir dos ovos, traficantes. Mais uma vez se justificaria a ação criminosa de nossa polícia, pelo menos aos olhos de uns. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O que me surpreende mais não é a violência da polícia em si. Muito menos ela agora ser praticada, aos olhos de todos, no Centro da cidade e na zona sul. O mais espantoso é ainda haver um número grande de pessoas que se calam diante dos abusos cometidos. É claro que a mídia hegemônica vem cumprindo seu papel e alienando a população - que se deixa alienar, convenhamos. O discurso de que a Rede Globo e demais veículos midiáticos iludem seu público é verdadeiro, por um lado, mas extremamente paternalista, por outro. A internet está aí para mostrar um outro ponto de vista ao qual qualquer um pode ter acesso. As pessoas estão na rua dividindo experiências, basta se dispor a ouvir criticamente o que acontece, de ambos os lados, e deixar de ser refém da televisão. Basta abrir os olhos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Voltando aos atos criminosos de nossa polícia nas favelas e comunidades mais carentes, sempre foram justificados porque eram uma resposta ao crime organizado. Bandido bom é bandido morto, dizem por aí. Nesse caso, nada mais lógico do que criminalizar os protestos. Pronto, os Black Blocs são vândalos, são criminosos que depredam fachadas de bancos e de lojas, chegam mesmo a quebrar pontos de ônibus, arrancar placas e lixeiras, além de atiçar fogo no lixo. E ainda usam máscaras, ícone máximo de que não são bem-intencionados. Está justificada a violência policial, portanto. Acontece que não é isso o que ocorre e vou dar a minha modesta opinião, que, para ser mais bem embasada, precisaria de muito mais espaço do que aqui disponho.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para ficar apenas no que diz respeito à PM, falo como testemunha e participante de várias manifestações que ocorrem de junho para cá. É mentira que a polícia quer apenas dispersar os manifestantes, simplesmente porque ela os cerca e os ataca de todas as direções. Não há para onde correr, possibilidade de dispersão, ponto de fuga. Cinegrafistas e pessoas da imprensa alternativa são ostensivamente reprimidos, sem falar nos advogados. Ora, um país democrático garante a liberdade de imprensa, por que, então, deve-se reprimir os midialivristas nas ruas? Seria porque eles mostram o que a imprensa oficial esconde? Isso lembra que período da nossa história? Mais do que acabar com a manifestação, a impressão que se tem é que a intenção é acabar com os manifestantes. Depois, basta rotulá-los como vândalos, do mesmo modo que se rotulava o negro pobre de traficante. E aí ficam elas por elas. A polícia simplesmente cumpriu seu papel e o desconforto que as imagens podem causar desaparecem com os comerciais ou com a novela que vem a seguir. E se continua (sobre)vivendo normalmente no dia seguinte.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Todavia, a atitude da PM, por mais bárbara que seja, não é a mais preocupante. Simplesmente porque ela cumpre ordens. E ordens de um governador eleito e reeleito pelo voto direto, prática vigente nas democracias. Mas um estado que não permite oposição política e que volta, em muitos aspectos, a se comportar ditatorialmente está cometendo uma violência muito mais grave do que a da PM, sua subordinada. Não há diálogo, não há explicações convincentes, não há pronunciamentos televisivos - há apenas silêncio. O mesmo silêncio que grita de Brasília, capital de um país que tem como presidente uma mulher que lutou contra a ditadura militar. É muito triste um partido com a história do PT formar alianças que visam o interesse dos mesmos de sempre - a classe dominante. O trabalhador? Contenta-se, quiçá, com um trabalho que lhe permita pagar as contas no fim do mês, sem seus direitos básicos garantidos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os professores, tanto do estado quanto do município, lutam pela educação. Mas educar para que o povo? É melhor que ele se contente com um poder de compra maior no fim do mês. Ensinar o povo a pensar é perigoso. Parece ser esse o raciocínio de nossos governador e prefeito. Este último, inclusive, já declarou que não matricularia seus filhos numa escola do município. Educação de qualidade para os filhos dos outros é luxo, não é direito, muito menos necessidade. E continua obstinado a não dialogar. E, com isso, o povo continua incansavelmente indo às ruas, com a mesma obstinação. Nesse ponto, fecha-se o círculo, pois a resposta é, novamente, a violência policial. A violência política, no final das contas, haja vista que vivemos hoje um estado de exceção no Rio de Janeiro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O povo não quer só vinte centavos. O povo quer educação, saúde, transporte público, segurança, moradia, alimentação, lazer padrão FIFA. O povo quer que Sérgio Cabral vá com Paes. A propósito, o que se espera tanto para votar seu impeachment? Mas isso já é outra história. A população do Rio de Janeiro não quer mais nosso governador no poder, e ele já demonstrou incompetência e motivos suficientes para ser retirado do cargo. Enquanto ele permanecer no Palácio Guanabara e, além disso e principalmente, as reivindicações populares não forem ouvidas, o povo voltará à rua, com repressão ou não.</span></div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-2956199582425408552013-10-13T16:48:00.001-03:002013-10-13T16:48:49.636-03:00Black Bloc e a discussão improfícua<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Hoje o Fantástico apresentará uma matéria sobre os Black Blocs, com a entrevista de um dos integrantes da tática que assume a perda de controle nas manifestações. Naturalmente, qualquer pessoa com o mínimo de senso crítico não irá aceitar como "verdade" o que for veiculado pela Rede Globo, haja vista o grau de descompromisso com a imparcialidade da emissora. Desconfio, inclusive, ser de fato um Black Bloc a dar a entrevista. Não pretendo, com isso, dizer que os Black Blocs devem ser aceitos por todos e quem os critica ou é reacionário ou fascista ou de direita. Mas mesmo as pessoas que discordam dos Black Blocs sabem que não é possível confiar na emissora dos Marinho. Suas críticas podem ser justificadas por outros caminhos, menos pela alienação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O que me chama a atenção ainda hoje, de forma bastante negativa, é a crescente polarização das manifestações entre violência da polícia de um lado e quebra-quebra de uns "vândalos", de outro. Quando o "gigante acordou", a população ia às ruas reivindicar o que lhe é de direito: saúde, educação, transportes, segurança, alimentação, moradia, empregos padrão FIFA. O país do futebol não quer mais ser o melhor nas quatro linhas e permanecer sem condições mínimas de uma vida digna. O dinheiro gasto nos estádios não seria melhor empregado para o bem-estar dos brasileiros, que sofrem em filas de hospitais com atendimento precário, por exemplo?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Diante do descontentamento explícito dos brasileiros, a primeira conquista chegou: a redução dos vinte centavos nos transportes públicos. Mas não eram só os vinte centavos que estavam em jogo. O que foi feito? Uma velha arma foi posta em circulação antes que novas conquistas surgissem por conta da pressão popular. Criou-se um novo problema para suplantar a causa primeira das manifestações. Assim, ao invés de discutir as políticas públicas deficitárias, começou a discussão sobre quem é mais violento: polícia ou manifestantes. E a cada dia que passa ambos os lados gastam tempo e energia para provar quem é mais violento e/ou quais são as melhores formas de reivindicação. Enquanto isso, nossos governantes permanecem sem dar as caras em público e sem serem efetivamente incomodados. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu mesmo tenho perdido precioso tempo dialogando com pessoas que nunca foram às manifestações mas que têm teorias para tudo o que acontece. Nenhum problema com as teorias contrárias às minhas, mesmo porque não sou dono de verdade alguma, mas toda a discussão gira em torno de seu próprio rabo e não avança: sim, os Black Blocs são vândalos e utilizam máscaras porque têm algo a esconder; não, foi o Batalhão de Choque do governador que mais uma vez provocou o conflito, está filmado, todos podem ver. E enquanto não há vencedores nessa disputa retórica, o padrão FIFA restringe-se apenas aos nossos estádios de futebol.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mesmo com toda essa discussão muitas vezes improfícua, ainda assim conseguimos avançar em alguns pontos: recentemente foi concedida liminar suspendendo a votação do plano de carreira dos professores, por exemplo; mais e mais a sociedade civil tem se organizado em coletivos dispostos a lutar por suas ideologias; até mesmo a Rede Globo se viu obrigada a mostrar um lado da história que vinha sendo escamoteada deliberadamente; vozes até então nunca ouvidas passaram a ser representadas e representativas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu tenho participado ativamente das manifestações nas ruas e também sou um dos que têm perdido tempo na discussão sobre os Black Blocs nas redes sociais. E estou cansado disso. Ora, discordar da tática dos mascarados e aceitar a nossa política pública são coisas diversas. Ok, discorde, mas qual a proposta que você tem a oferecer para que a voz do povo seja ouvida? Será que estamos tão habituados a não termos nada que a violência da PM em favelas não nos incomoda, pois sempre foi assim mesmo? Que passar horas na fila de atendimento ou morrer num hospital sem nem sequer ter uma maca para deitar já é parte da rotina? Que dia após dia ficar parado na SuperVia por carência de trens não chega a ser um problema porque não atinge a classe média? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Particularmente, não tenho nada contra os Black Blocs, apesar de ter alguns senões sim, mas me sinto muito mais seguro na companhia deles nas ruas. Mesmo que eu admitisse, hipoteticamente, que eles são baderneiros e que têm como único objetivo vandalizar a cidade, significa dizer que, na ausência deles, não temos do que reclamar? Nenhum manifestante é causa do problema, mas sim sua consequência. Vamos parar de correr atrás do próprio rabo e continuar a exigir saúde, educação, transporte, segurança, alimentação, moradia, desmilitarização da polícia etc. etc. O país não está em crise por causa das manifestações; estas existem porque o país está em crise. Para finalizar, quem tem coragem de dizer que, se não houvesse Black Blocs, não teríamos do que reclamar?</span></div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-15905234886621362042013-10-04T14:48:00.000-03:002013-10-04T14:48:07.524-03:00Dois breves comentários pontuais sobre as manifestações<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">De junho para cá, as manifestações tomaram conta do país e seguem com força, principalmente no Rio de Janeiro. O povo não estava interessado apenas na revogação do aumento de 20 centavos nas passagens dos transportes públicos. Seu interesse ia - e vai - além, mesmo que os 20 centavos tenham sido apenas a gota d'água. Cientistas políticos e sociais e intelectuais de um modo geral buscaram compreender o fenômeno, mas não conseguiram, ainda hoje, de modo satisfatório. E na incompreensão, muita gente opinou. Uma das teorias mais correntes era a de que os Black Blocs e o Anonymous não passavam de grupos fascistas, interessados ou num golpe militar ou na desmoralização do PT para a retomada do poder, nas próximas eleições, pelo PSDB.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sobre um possível golpe militar orquestrado pelos jovens vândalos, porque mascarados, acredito que não há mais quem sustente essa hipótese, tamanho o absurdo. Mas se o tópico é ditadura, vamos pensar sobre o que ocorre aqui no Rio de Janeiro de uns meses para cá. A polícia militar, a cada dia que passa, sob o comando do governador Sérgio Cabral, a pretexto de manter a ordem nas ruas, tem reprimido violentamente qualquer manifestação que se oponha ao governo. Ruas são fechadas e nem mesmo moradores podem escolher o percurso que lhes convém para chegar em casa. Isso aconteceu no Leblon - quando a polícia militar estava claramente protegendo bens privados - e em Laranjeiras, bairro sede do Palácio Guanabara - isso para não falar no casamento da Dona Barata e no recente fechamento da Cinelândia (!). Não apenas o direito de ir e vir da população foi cerceado; seu direito de se manifestar, de demonstrar descontentamento com a política atual e de fazer, portanto, oposição também foi extinto. Nas manifestações, bombas de efeito moral, de gás lacrimogêneo, balas de borracha, cassetetes e spray de pimenta (em alguns casos munição letal também), em grande quantidade e de forma covarde e arbitrária, são utilizados para que os manifestantes não se manifestem; policiais se misturam ao povo para iniciar confusões e criminalizar os protestos; pessoas são presas arbitrariamente, sem qualquer justificativa; "provas" são forjadas para justificar detenções; advogados são impedidos de trabalhar e impedir que jovens sejam injustamente encarcerados; a mídia alternativa é igualmente perseguida e ameaçada para que não registre a truculência empregada pela polícia de Cabral; e a grande imprensa ou se cala ou manipula as informações. Quem presenciou o que acontece quando o Batalhão de Choque se dispõe a cumprir as ordens do governador, seja pela imprensa alternativa seja nas próprias manifestações, tem a certeza, hoje, de que não havia risco de ditadura - ela já existe. Vivemos hoje um Estado de exceção, sem sombra de dúvida. E muita gente se mostrava contrária aos protestos receosos de reviver os anos de chumbo da ditadura militar, talvez ajudando e fortalecendo o governo, mesmo que indiretamente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quanto ao segundo tópico - a retomada do poder pelo PSDB -, não tenho muito o que dizer, exceto o que me parece óbvio. Em primeiro lugar, se realmente houvesse, no meio da multidão, partidários da direita e simpatizantes dos tucanos, por que isso deslegitimaria os protestos? Numa democracia todos têm o direito de se manifestar, ou não? Por que o PT deveria estar a salvo de qualquer crítica que lhe fosse feita? Devo acreditar que o país, graças ao Partidos dos Trabalhadores (nome hoje irônico para a estrela vermelha), está tão bom que seria um gesto de vandalismo se posicionar de forma contrária? E mesmo que estivesse, a oposição deveria ser banida? Qual o nome que se dá a isso? A meu ver, deveria ser feito um mea culpa pelos defensores do PT e o porquê de suas ressalvas às manifestações. Não acredito que a maioria das pessoas nas ruas eram de direita, embora elas também pudessem estar presentes, mas para quem defendia que o povo na rua equivalia a uma desmoralização do PT, o que respondo é que, infelizmente, foi o próprio PT que se desmoralizou. Quando finalmente Lula chegou ao poder, o Brasil teve a grande chance de se firmar como um país de esquerda, mas não foi isso o que ocorreu. As alianças equivocadas assumidas em nome da governabilidade atendiam a quais interesses? E de quem? Enumerar as causas do desgaste que o PT sofre por causa de suas escolhas seria cansativo e desnecessário, todos já sabem o que há de errado - e não me refiro ao mensalão. Para ficar apenas no Rio de Janeiro, como a presidente Dilma ainda não se pronunciou diante da barbárie que vem sucessivamente sendo cometida aqui? O que o Mercadante espera para dar um nota que seja sobre o que o Eduardo Paes e o Sérgio Cabral estão fazendo com a Educação?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para finalizar, aviso ao petistas, que temiam a volta do tucanato, para não se preocuparem: em São Paulo, por exemplo, Alckmin também foi e é alvo de protestos. Chegou a hora de entendermos, todos, que a luta não é contra um ou outro partido - a luta é contra o sistema, que continua privilegiando uma parcela ínfima da sociedade, a mesma que detém o capital. O que queremos é um governo que seja, de fato, preocupado com o povo, com o trabalhador. Mais, preferencialmente que estes trabalhadores - e não políticos profissionais, filhos da burguesia e perpetuadores do status quo - cheguem ao poder. Acredito que esteja na hora de substituirmos o capitalismo, que já demonstrou toda a sua iniquidade. Que venham Educação, Saúde, Transportes, Segurança, Moradia, Habitação, Alimentação padrão Fifa. Trocamos os suntuosos estádios de futebol por saúde e educação para começar. </span></div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-32008751266021949912013-07-20T12:05:00.001-03:002013-07-20T12:05:44.805-03:00Estamos no caminho certo?<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Desde que as manifestações eclodiram por todo o país, aqui no Rio de Janeiro tivemos momentos muito expressivos, como as passeatas da Rio Branco e da Presidente Vargas, por exemplo. Nelas, também e infelizmente, houve repressão e violência policiais, mas havia muita gente nas ruas explicitando seu descontentamento com os rumos de nossa política.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">As manifestações continuam a acontecer, mas cada vez mais o número de participantes é menor. Penso que essa diminuição revela que há alguma coisa de errado acontecendo. Por que as pessoas que encheram o centro do Rio têm optado por não mais sair às ruas? Por que mais e novos cidadãos não se sentem motivados a aderir aos protestos? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Uma primeira e pronta resposta poderia ser a violência com a qual a PM tem reprimido os manifestantes e a repercussão negativa que os "vândalos" causam na opinião pública. É uma resposta possível, mas não me convence. Sou da opinião, aberta a mudanças, naturalmente, de que a forma com que os protestos se articulam não tem sido produtiva para ninguém. Talvez apenas para o governo, haja vista justamente a maneira inamistosa como a população em geral tem encarado os atos de "vandalismo". Não tenho a ilusão de que a maioria das pessoas acompanha o que de fato acontece à luz da imprensa alternativa, ao contrário do que pensam alguns amigos. Para mim, infelizmente, ainda é a imprensa institucionalizada quem filtra o que deve chegar ao público - e o filtro é extremamente tendencioso e de direita.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A grande imprensa já deixou claro de que lado está e, a cada confronto que houver com a polícia, mais munição disparamos contra nossos próprios pés. A meu ver, por mais legítimas que sejam as nossas reivindicações, precisamos urgentemente encontrar outra maneira de reclamá-las, pois o embate com a PM só tem nos enfraquecido. Penso que há uma necessidade premente de cooptarmos mais e mais pessoas para o nosso lado, de maneira a conseguirmos atingir as mudanças urgentes de que o país necessita - em uma palavra, temos que trabalhar, também, como formadores de opinião e, para isso surtir efeito, os confrontos precisam parar. Em hipótese alguma estou sugerindo que não devemos ir às ruas e que nos resta a resignação, mas creio que uma mudança de pauta é importante no momento. A repressão é a tônica em toda manifestação. A polícia não está presente para proteger a população, ao contrário, sua presença se dá para nos atacar e desmoralizar, o que tem sido muito bem feito com a pronta ajuda dos meios de comunicação.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Dessa maneira, o foco tem se desvirtuado. Ao invés de falarmos de nossas reivindicações originais - e são muitas -, perdemos tempo reclamando da truculência e do despreparo da polícia. Ao apontarmos o holofote para isso, desviamos a luz do que nos motivou a ir às ruas, e para o poder vigente isso é ótimo, seja porque é a direção apontada pela imprensa, seja porque é a revolta dos manifestantes. E aí desconfio que muitos dos manifestantes que ainda vão protestar o fazem catarticamente, de maneira a liberar o descontentamento e a indignação mais do que justas com o governo. Acho que é hora de repensarmos nossas pautas e as formas de protesto.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">As manifestações organizadas em torno da visita do papa e da Jornada Mundial da Juventude, por um lado, darão muita visibilidade aos manifestantes, possivelmente pressionando mais ainda o governo de Sérgio Cabral, mas, por outro, um confronto com a polícia num evento, mais do que internacional, religioso num país predominantemente católico pode conferir à imprensa a pecha que faltava para assegurar a opinião pública de que não passamos de "vândalos" que nem o direito constitucional de escolha religiosa respeita. Enfim, reitero que precisamos agir mais com a cabeça do que com a força, mas ainda assim agir. </span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não faço parte de nenhum grupo, mas utilizo a primeira pessoa do plural porque concordo com as reivindicações gritadas nas ruas e porque, num confronto entre o povo e o governo, estarei sempre ao lado da população, dela faço parte e nosso inimigo é o mesmo. Este texto não pretende conter a verdade final sobre os fatos, estou aberto para dialogar e, caso julgue pertinente, mudar de ideia. Ele foi escrito, porém, porque, como já disse, acredito que estamos insistindo em prosseguir por um caminho que tem se mostrado ineficiente. Lembremo-nos que ano que vem haverá eleições e não podemos correr o risco de fortalecer o governo, mesmo que isso se dê (in)diretamente via opinião pública. </span></div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-68128625715079129332013-07-12T16:54:00.001-03:002013-07-12T17:09:12.507-03:00Truculência de ambas as partes?<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Relutei o quanto pude em vir aqui escrever sobre as manifestações que ocorrem pelo país à fora por três razões principais: i) quando os protestos iniciaram, acredito que todos ficamos sem saber ao certo como categorizar tanto os manifestantes, apartidários, sem líderes, e de várias frentes diversas, quanto as próprias manifestações em si. Muito se discutia a esse respeito, cientistas políticos e sociais, assim como intelectuais de diferentes áreas, buscavam uma reflexão que encontrasse respostas ao que acontecia no país, mas todas as teorizações ainda me pareciam insuficientes; ii) muito já havia sido escrito por pessoas com mais gabarito do que eu e não estava disposto a, simplesmente, repetir o já dito, reforçar as dúvidas para as quais ainda não havia respostas etc.; iii) como eu ainda não havia podido participar, diretamente, de nenhuma das manifestações aqui no Rio de Janeiro, sabendo das barbaridades cometidas pela polícia pelas redes sociais e pela Mídia Ninja, não me sentia apto a falar sobre o assunto. Era como se eu, agindo assim, pegasse carona na dor e militância alheias para, no conforto da minha casa, tecer argumentos sobre o modus operandi da polícia repressora e da população cansada e indignada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Hoje, porém, meu sentimento é outro. Não, não tenho uma resposta definitiva sobre as manifestações e acredito que não vou dizer nada de novo. Escrevo, porém, porque ainda dói. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Morei por aproximadamente 27 anos na Rua Pinheiro Machado, em frente ao Palácio. Criança, frequentava o parquinho que havia lá e que cedeu espaço a um estacionamento. Ontem, não fui para uma diversão infantil, mas para contribuir com minha voz. A liberdade de expressão e manifestações contra o governo são legais, não? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ainda no Largo do Machado, a concentração transcorreu na mais perfeita ordem e, ordeira, seguiu pela Rua das Laranjeiras em direção ao Palácio. Duas coisas me chamaram atenção no caminho. A grande quantidade de pessoas nos apartamentos que apoiavam a manifestação, piscando as luzes de suas casas, foi um dado positivo. O negativo, por outro lado, foi o comércio fechando as portas às pressas, receosos do "vandalismo de uma minoria", como noticiam os telejornais. Sobre este último aspecto, tenho ouvido e conversado com pessoas que acreditam que há truculência de ambas as partes. Não sei se essa crença é embasada no noticiário, mas é um discurso que percebo bastante ressonante ainda. Ora, é sabido que, entre os manifestantes, há grupos de extrema-direita dispostos ao enfrentamento, como provavelmente também há gente infiltrada para desestabilizar e enfraquecer o movimento. As notícias veiculadas pela mídia televisiva, em especial a Rede Globo, é de que a polícia apenas reage a um primeiro ataque vindo dos manifestantes e age apenas para dispersar a multidão. Isso é mentira! Mesmo que o primeiro ataque de fato parta da população, a reação da PM não é demasiada arbitrária? Ademais, os mantenedores da lei e da ordem estão equipados dos pés a cabeça, possuem armas letais e escudos, além de carros, motos, blindados, em contraste com os "vândalos".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas se há, no meio dos participantes, gente de extrema-direita e/ou extrema-esquerda, engrossando o coro contra o governo do senhor Sérgio Cabral, penso que isso é um sinal ainda mais assustador. Haveria alguém contente com seu governo?! Tenho grande curiosidade em saber o que pensa a maioria da população, sem uma conscientização política e, portanto, mais facilmente manipulada, sobre o referido governo. Por mais gente que vá às ruas, a grande maioria da população permanece em suas residências e não tem acesso às redes sociais ou à cobertura feita pela mídia alternativa, que vem dando um espetáculo. E, para piorar, essa massa tem um acesso distorcido do que ocorre nas manifestações pela grande imprensa. Será que a retomada do espaço anteriormente ocupado pelo narcotráfico já é um indício, para parte da população, de que o governo é bom e está ao lado do povo? Será que a Copa e as Olimpíadas são consideradas marcos de uma vitória do governo em prol da população? No caso das UPPs, o buraco é mais embaixo. Se houve realmente uma retomada do espaço, por que o tráfico ainda persiste? Por que o senhor Beltrame dizia, sempre que podia, não ser prioridade da polícia acabar com o tráfico? Por que não? A quem o tráfico interessa, no final das contas? Honestamente, gostaria muito de saber o que as pessoas que não vão às ruas acham.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Independente do que possam pensar as pessoas que não saem às ruas para protestar, muita gente tem saído. Ontem à noite, um grupo estava em frente ao Palácio Guanabara. Não havia, como era de se esperar, nenhum representante para dialogar, apenas tentativas inúteis de um oficial (não sei sua patente) em dizer, com um megafone cujo som era muito baixo, que estava ao nosso lado. Desconfio, inclusive, que isso não passou de manobra midiática, pois vi na televisão (Globo) o referido policial discursando como se realmente se importasse conosco. Tudo ia bem até que, de uma hora para outra, começou o enfrentamento. Posso estar enganado, mas desconfio que partiu de fato dos manifestantes o primeiro rojão contra os policiais, que rapidamente agiram não de maneira a dispersar a multidão, mas de nos exterminar, essa era a impressão. (Breve parênteses: quando desconfio que saiu da parte dos manifestantes, me refiro a um grupo específico e, em hipótese alguma, coloco todos sob o mesmo paradigma). O trecho da Rua Paissandu entre as Ruas Pinheiro Machado e Ipiranga foi bloqueado pela PM, impedindo justamente que nos dispersássemos. Ficamos encurralados e, mesmo assim, bombas, tiros e muito gás não paravam de ser lançados.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Hoje, conversei com algumas pessoas que se referiram, mais uma vez, à truculência de ambas as partes, pelo simples fato de lixeiras terem sido queimadas. Bem, elas foram queimadas como uma tentativa de barricada, para que pudéssemos fugir, o que se mostrou ineficiente porque a PM seguia adiante com motos, lançando mais bombas, tiros e gás. De volta à Pinheiro Machado, fomos atacados por um carro sem nenhuma identificação que disparou inúmeras bombas, enquanto as motos continuavam a perseguição, que se estendeu por Botafogo, Flamengo e Laranjeiras. Truculência de ambas as partes? Não, isso não aconteceu. A polícia agiu assim, tacando bombas (!!) em hospitais, em bares, em residências e em manifestantes (!!) Definitivamente, não posso concordar que houve truculência de ambas as partes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nasci em 1974, em plena ditadura militar, mas não vivi o horror daquela época, era tão-somente uma criança, mas, enquanto fugia pelas ruas noite passada, sendo caçado, acuado e oprimido, me perguntava se de fato vivemos numa democracia. Vivemos? O que explica o governador do segundo mais importante estado do país ordenar a barbárie em plena cidade, aos olhos do tráfego e dos moradores no alto dos prédios, que assistiam a tudo horrorizados? É inaceitável que ele apenas diga que lamenta a ação de vândalos isolados, como é inaceitável o completo silêncio dos meios de comunicação. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Até pouquíssimo tempo atrás, a PM restringia sua violência e covardia às favelas e fingíamos que nada víamos. Acontece que não estamos mais dispostos a fechar os olhos seja para onde for. </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A classe média, especialmente da zona sul, sempre foi poupada das arbitrariedades de nossa polícia, uma pena, visto que o tratamento deveria ser o mesmo para todos. Nem mais ela, porém, está a salvo agora. A repressão está sendo democraticamente oferecida a toda a população, da Maré ao Leblon. Só que n</span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">ão estamos mais interessados em, dia após dia, assistirmos ao que nossos políticos fazem com resignação. Não, chega! Não queremos Copa do Mundo, queremos dignidade; educação; saúde; transporte; moradia; alimentação. E não queremos padrão Fifa, queremos à brasileira mesmo, desde que reconstruamos nosso país, que consigamos finalmente reformas políticas e representantes dignos de ocuparem seus cargos. Lamentavelmente não é isso o que ocorre, desde sempre. Cansamos. E estamos dispostos a prosseguir. Sem a truculência da qual nos acusam, esta é parte da PM, subordinada ao governo do estado, fique claro. </span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Enfim, escrevo este texto porque ainda dói. As lembranças ainda são muito recentes e a dor não é física. A violência da polícia ontem, como nas demais manifestações, nada mais é do que o reflexo da violência de nosso governo. Não estão satisfeitos, parece querer dizer o senhor Sérgio Cabral, acabem com eles. Escrevo porque dói, porque estou indignado e porque, agora, não me resta outra coisa a fazer. Já era hora deste blog bastardo ser reativado mesmo.</span></div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-39318797844797565632013-01-21T23:36:00.001-02:002013-01-21T23:36:12.714-02:00Aos bicicleteiros<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ok, o mundo não acabou, mas passa por dificuldades. Há desmatamentos, superaquecimento, espécies vegetais e animais em risco de extinção, catástrofes ocasionadas por ocupações irregulares e por descaso das autoridades etc. Além disso, o trânsito das grandes cidades está cada vez mais caótico e, dia a dia, um grupo mais consciente dos benefícios que as bicicletas proporcionariam à qualidade de vida vem reivindicando mais atenção, respeito e consciência dos veículos motorizados para com os ciclistas. Apoio a causa e, numa cidade como o Rio de Janeiro, por exemplo, o uso das bicicletas como meio de transporte tem tudo para dar certo. Possuímos quilômetros de ciclovias e algumas estações de metrô já têm bicicletários, facilitando assim a vida dos ciclistas e, por conseguinte, de toda a população. Seriam menos carros, menos buzinas, menos engarrafamentos, menos poluição e mais bem-estar para todos, ciclistas ou não. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Mas aqui, apesar de ser simpático à causa e gostar da ideia de se ter mais respeito pelas magrelas no trânsito, com uma legislação mais clara e uma política que eduque e puna os desrespeitosos, quero chamar atenção para o lado mais fraco e desde sempre menos favorecido das nossas ruas - o pedestre. Onde eu moro e nas adjacências (Flamengo, Largo do Machado, Laranjeiras, Catete, Glória e Botafogo), é raríssimo observar um ciclista cumprindo as leis de trânsito. O sinal vermelho, na cabeça de quase todos os ciclistas, deve ser respeitado apenas pelos veículos motorizados, assim como andar na contramão parece ser um direito das bicicletas, sem falar em andar pela calçada, uma extensão de liberdade e caminho para pedaladas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Conheço alguns casos de amigos próximos que já sofreram com o egocentrismo dos ciclistas. Uma amiga, indo buscar a filha no colégio, ao atravessar a rua, foi atropelada por uma bicicleta que vinha na contramão e precisou ir ao hospital; um outro amigo, maratonista, já foi também atropelado por outro ciclista enquanto treinava para a maratona de Porto Alegre e teve seu braço quebrado, perdendo a prova; eu mesmo, que gosto de correr no aterro, já fui diversas vezes hostilizado por ciclistas que parecem ignorar que a preferência, mesmo nas ciclovias, é do pedestre. Já precisei, mais de uma vez, puxar minhas filhas para que as pequenas não se machucassem. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Não pretendo, em hipótese alguma, diminuir a importância das reivindicações dos ciclistas. Como já disse, apoio a causa. Também tenho consciência de que há muitos bicicleteiros que respeitam as leis de trânsito e pedalam respeitando para também serem respeitados. Como tenho amigos que já sofreram com as bicicletas, também tenho amigos que não só pedalam dentro do que esperamos de uma sociedade civilizada, mas que militam para uma boa educação no trânsito, independente do meio de transporte.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Que as autoridades pensem com mais carinho nas bicicletas como uma alternativa muito viável para o transporte urbano;que os motoristas respeitem os ciclistas e conscientizem-se de que há espaço para todos; que os próprios ciclistas passem a respeitar as leis de trânsito e se lembrem que assim como têm direitos, devem ter igualmente deveres; e que nós pedestres possamos transitar seguros.</span></div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-17348645949109127402013-01-11T13:11:00.000-02:002013-01-11T13:11:47.678-02:00A verdade dos fatos<div style="text-align: justify;">
Senão vejamos. O metrô do Rio de Janeiro aumentou consideravelmente a quantidade de cidadãos que já podem se beneficiar com mais este excelente meio de transporte público. Quando criança, recordo-me que as estações da linha 1 iam de Botafogo à Saens Peña e umas poucas na linha 2. Hoje, além de várias novas estações, temos o metrô na superfície e outras tantas integrações, possibilitando ao usuário chegar a bairros por onde o metrô não passa. Um avanço muito grande em termos de transporte público, evidenciando o empenho de nosso governador pelo bem-estar da população.</div>
<div style="text-align: justify;">
É claro que sempre há e haverá os descontentes. Não basta se locomover com presteza, mas, se não houver ar-condicionado, o cordão dos reclamões põe a boca no trombone e a imprensa faz alarde de tão pequenino revés. Há ainda aqueles que pretendem se sentar após uma jornada de trabalho cansativa. Estes, porém, deveriam agradecer ter um trabalho, que afinal engrandece e dignifica o homem. O bilhete do metrô, a propósito, garante o transporte, não o conforto. Para quem está em busca de ar-condicionado, lugares vazios ou minimamente mais espaço numa viagem forçosamente em pé, mais empenho nos estudos e no trabalho redundaria em mais dinheiro e, em consequência, no poder financeiro para a compra de um automóvel ou o transporte via taxi. Não é possível que a população não enxergue como se articulam em prol de cada um de nós as políticas públicas. Tenho certeza, também, que se oferecerem preços mais caros para aqueles que pretedem viajar sentados, haverá a turma da oposição para prontamente reclamar, o que é de costume. Mas em todos os lugares não é assim? Os melhores lugares são sempre mais caros, ora.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, para ficar apenas no que diz respeito ao metrô e ao transporte em massa e finalizar esses breves comentários, por que a imprensa não noticia o óbvio, ao invés de apontar defeitos inexistentes? O último absurdo noticiado foi a tentativa dos seguranças do metrô de garantirem viagem segura aos usuários, empurrando-os para dentro do vagão superlotado a fim de que a porta fechasse sem pôr em risco os viajantes. Que bom que há essa preocupação. Para quem quer mais espaço e continuar a usufruir do metrô, um bom regime seria uma solução, diminuindo assim os gastos com cerveja e sardinha, por exemplo. Mais uma demonstração da coadunação de nossas políticas públicas em todas as áreas, sempre a favorecer a população. No final das contas, a culpa é sempre da população, pois nossos governantes só não utilizam o transporte público para não ocupar o lugar do trabalhador. Nisso ninguém pensa e a imprensa faz vista grossa. Ou vocês não acham que o Sérgio Cabral adoraria trocar seu carro de luxo com motorista para se juntar aos eleitores que o elegeram para um segundo mandato. Ele adoraria viajar em companhia de seus eleitores, que certamente demonstrariam todo afeto e carinho que ele merece. Alguma dúvida?</div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-86491147193963278992012-04-26T15:44:00.000-03:002012-04-26T15:53:17.296-03:00Alimentando o espírito...<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quando estava para terminar o então segundo grau, meu padrinho, Augusto Martins, tentou incansavelmente, de várias maneiras, me convencer a prestar vestibular para Direito. Eu dizia que queria fazer ou Música ou Letras e, impaciente, o sábio Augusto dizia que primeiro deveríamos alimentar a barriga para só então alimentar o espírito. Argumentava ele que fazendo Letras ou Música eu poderia alimentar meu espírito, mas a fome me lembraria diariamente minha péssima escolha. Fiz Letras e não sei se concordo com meu padrinho. Não passo fome, mas não estou tão bem como amigos meus advogados.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">E se advogado eu fosse, poderia dedicar minha carreira a convencer as autoridades da inocência de meus clientes que, mesmo flagrados em vídeos mais do que comprometedores, estavam, vejam vocês, a dizer tão-somente bravatas! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Aí me pergunto se é preciso realmente fazer anos de faculdade de Direito para aprender a ser tão cara de pau. Talvez a cara de pau seja inata a muitos seres humanos, mas a faculdade os ajudaria com doses refinadas de requinte. E, convenhamos, um belo terno ajudaria bastante.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Empresários foram flagrados afirmando com todas as letras que possuem um esquema para fraudar licitações? Chama o advogado que ele vai explicar que tudo não passou de bravata. Diretores de empresas até então tidas como idôneas aparecem em vídeos comprometedores explicando de que modo é possível desviar o dinheiro público? Não é nada disso do que vocês estão pensando, era só bravata. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Aí, eu, que, como a maioria da população, devo ser considerado idiota, me pergunto: será que eu posso também dizer um monte de sandice por aí e depois, se for acusado de alguma coisa, se meu discurso merecer alguma punição, se minhas atitudes tiverem consequências, posso simplesmente dizer, com a maior calma do mundo, que tudo não passou de bravata? Será?</span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-45432984557672105972012-03-01T19:09:00.002-03:002012-03-01T19:13:10.271-03:00Mijos e mijões<div align="justify"><span style="font-family:arial;">Ok, não podemos fazer xixi na rua, muito menos cocô, está claro. Caso alguém seja flagrado se aliviando em vias públicas, que seja conduzido à delegacia. Não questiono. Mas pergunto: o que fazer com os donos de cachorro que diariamente fazem xixi e cocô na rua? Cachorro pode?</span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-4294844406546040482012-02-09T21:02:00.004-02:002012-02-09T21:44:27.206-02:00Paciência tem limite<div align="justify"><span style="font-family:arial;">Assistindo ao RJ TV hoje na hora do almoço, me revoltei com uma observação feita pelo repórter Edimilson Ávila a respeito da revolta da população que mais uma vez não conseguiu chegar ao seu destino porque novamente a Supervia se mostrou ineficaz. Sob o calor infernal do verão carioca, tentando chegar em vão ao trabalho, cansados do descaso do governo em todas as frentes - e hoje principalmente em relação aos trens -, os usuários se revoltaram e partiram para a depredação. Foi então que o repórter disse que "depredação é inaceitável". Imagino que a população, aos olhos da Rede Globo, ou ao menos do referido repórter, deva, dia a dia, ser maltratada, humilhada, desservida - em silêncio. Aqui entre nós, que outra forma de externar sua revolta os usuários da Supervia poderiam ter? Deveriam eles, uma vez mais, se contentar com as promessas que nunca se cumprem e com simples desculpas? Ou seria melhor, como um bom povo ordeiro, engolir em seco, abaixar a cabeça e seguir adiante? Paciência tem limite. Como um anônimo disse na mesma matéria, todo dia eles passam pelos mesmos problemas nos trens lotados, com atrasos, sem ventilação, etc. Parece que hoje foi a gota d'água. Dia de fúria. Os usuários da Supervia cansaram. Será que para o Edimilson Ávila a população deveria fazer uma passeata até o Palácio Guanabara para, além de não ser recebida por nenhum representante nem do governo nem da Supervia, apanhar da PM, que estaria lá para evitar qualquer tipo de desordem? É claro que o vandalismo não é a melhor opção, mas paciência tem limite. Quando se é desrepeitado diariamente, quando se ganha um salário desumano, se mora mal e é achincalhado pelo poder público todo santo dia, chega uma hora em que o caldo entorna. Mas há uma luz no fim do túnel. Parece que para a Olimpíada de 2016 o problema estará resolvido. Mas teremos que esperar até lá, mesmo porque o secretário de transportes do Rio de Janeiro, Júlio Lopes, afirmou que problemas como o de hoje podem voltar a acontecer. Enquanto a população não desfruta de um transporte público de qualidade, que sofra ordeiramente.</span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-60457511223871901122012-01-27T23:13:00.003-02:002012-01-27T23:40:35.043-02:00Fidelidade<div align="justify"><span style="font-family:arial;">Não sei o que está acontecendo, se é que alguma coisa está a acontecer. Afinal, em mais um ano as chuvas vieram e inundaram, como se ninguém soubesse que isso iria acontecer. E como ocorreu ano passado, vai ficar tudo na mesma, num hiato de um ano até as chuvas do próximo verão. Nossos problemas, pluviais ou não, são basicamente os mesmos, nossos velhos conhecidos, nas mesmas e carentes áreas de sempre, como educação, saúde, transporte público, segurança, corrupção, impunidade. Até prédios começaram a vir abaixo no centro da segunda maior e mais importante capital do país. E nada de acender aquela veia indignada em mim a motivar algum post a atualizar minimamente este editorial. Pois é, não sei o que está acontecendo, se é que alguma coisa está a acontecer...</span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-85811327751767199112012-01-09T21:16:00.002-02:002012-01-09T21:26:41.351-02:00Comentário desimportante<div align="justify"><span style="font-family:arial;">Estava aqui pensando comigo que o ex-ministro Carlos Lupi ter reassumido a presidência do PDT na realidade pegou mal para o partido, afinal de contas é um partido com longa tradição política no país, com nomes como Leonel Brizola dentre os seus correligionários. Para piorar ainda mais, ele declarou que a prioridade do partido agora é a reeleição de Eduardo Paes para a prefeitura do Rio de Janeiro. Bom, PDT, Leonel Brizola, Lupi, Paes... e eu preocupado com a tradição do partido... </span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-57760815615536053572011-11-24T17:32:00.004-02:002011-11-24T17:53:34.514-02:00Mais uma vez o senhor Bolsonaro<div align="justify"><span style="font-family:arial;">É difícil para mim ouvir falar em intolerância sexual simplesmente porque é demasiado absurdo ainda hoje ter alguém que julgue e condene outro ser humano apenas por ele ser gay. A sexualidade de ninguém me diz respeito; pouco importa se fulano gosta de outro homem, se beltrana tem tesão em outra mulher, e se o ciclano gosta de ambos os sexos. Honestamente, o que que eu tenho com isso? E mais: a vida homossexual de alguém, por que cargas d'água, desqualifica esse alguém?? Quer dizer que uma pessoa, super competente no que faz, extremamente qualificada, honesta, eleitora e vacinada, depois de assumir seu homossexualismo vai perder todas as suas qualidades apenas porque...? Pois é, por que o quê?? Também não consigo entender tamanho rebuliço que o chamado kit gay ainda causa. Podemos até questionar se a escola é o espaço mais adequado para se tratar o assunto, se não seria mais producente que cada família educasse seus filhos de modo a ensinar o óbvio: não devemos ter qualquer tipo de preconceito, seja ele racial, sexual, religioso etc., mas daí a condenar de uma maneira ferrenha o kit gay porque ele seria responsável por "desvirtuar" nossos alunos e transformá-los em gays em potencial é demais, não é não? Será que em "nome de Deus" é preferível assistirmos agressões a homossexuais desde que a moral e os bons costumes permaneçam intocáveis? A família brasileira estaria com seus dias contados se olharmos outro ser humano, igual a nós em tudo, mas que tem desejo pelo mesmo sexo, com respeito, acreditando ser ele embaixador do diabo? </span></div>
<div align="justify"><span style="font-family:Arial;">Tudo isso porque, na capa do JB, o senhor Bolsonaro mais uma vez é manchete. Em discurso inflamado, cobra da presidente Dilma explicações sobre o kit gay, responsabilizando-o se nossas crianças todas virarem gays por conta dessa má influência. Acho que mais do que ficar esperneando por causa de um moralismo babaca, tem gente que faria muito melhor em sair do armário e tirar, assim, esse peso das costas. </span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-2062363213162664182011-11-18T13:22:00.003-02:002011-11-18T14:19:15.124-02:00Cansaço<div align="justify"><span style="font-family:arial;">A lembrança mais remota que eu tenho sobre política remonta à abertura política do país e à campanha Diretas Já. Ainda criança, não tinha real dimensão do que estava acontecendo, mas sabia que era alguma coisa muito importante. Isso porque meus pais acompanhavam tudo o que acontecia com duas televisões ligadas na sala em canais diferentes para não perder detalhe algum. Sentia-me importante assistindo à votação indireta que elegeria Tancredo Neves nosso novo presidente após anos de ditadura militar, e ouvindo com atenção os comentários de meu pai.</span></div>
<div align="justify"><span style="font-family:Arial;">Alguns anos depois, a eleição que primeiro recebeu minha participação, apesar de ainda não ter idade para votar, foi a que Lula saiu derrotado pelo Collor. Com quinze anos de idade, lamentei não poder votar no Lula, mas militei como pude a seu favor. Eu e todas as pessoas que, na minha opinião, tinham bom senso.</span></div>
<div align="justify"><span style="font-family:Arial;">Já na faculdade, dei aulas voluntariamente durante cinco anos em presídios porque acreditava que a educação era uma arma poderosíssima para mudar não apenas a realidade dos apenados, mas a realidade de toda a nossa sociedade. Assim, ingressei em um projeto político, porém não partidário, coordenado pela Regina Brasil, que visava, mais do que ensinar o conteúdo programático aos detentos, levar cidadania e reflexão aos alunos. Foi lá, inclusive, que conheci o Marcelo Freixo, então professor de História. </span></div>
<div align="justify"><span style="font-family:Arial;">Foi ele, aliás, quem recebeu meu único voto nas últimas eleições. Para os demais cargos, não tive dúvidas quanto à anulação. Minha mais que curta atuação política já se cansou e se desiludiu com os nossos políticos de um modo geral. Sei que não se pode generalizar, que não dá para dizer que todos os políticos são corruptos, safados e filhos da puta - o Marcelo Freixo, a meu ver, é prova disso -, mas, convenhamos, fica difícil. Como fica difícil também entender como "eles" continuam sendo eleitos. Muitas vezes, dependendo de meu humor, acredito que a população merece passar pelo que passa, afinal, foi ela que colocou no poder nossos governantes. O problema, claro, é que a minoria se dá mal por tabela. </span></div>
<div align="justify"><span style="font-family:Arial;">Faço essa retrospectiva porque estou cansado. Cansei de votar, de acreditar, de ter esperanças. Honestamente, acho meu país uma vergonha. Não tenho nenhum orgulho de ser brasileiro, ao contrário, sinto vergonha. É um país lindo etc. e tal, mas e daí? Já não deu tempo para sua população querer deixar de ter vantagem em tudo? Já não é hora de olharmos para o lado e pensarmos no bem-estar coletivo? Até quando vamos seguir acreditando que se a farinha é pouca, meu pirão primeiro? Penso que na realidade nossos governantes espelham o que é nossa sociedade. Não é muito difícil encontrar, em qualquer esquina, um brasileiro que não pense primeiro em si. Acho que é por isso, inclusive, que quando alguém devolve o troco, ou uma quantia grande em dinheiro que não lhe pertence, passa a ser manchete de todos os telejornais. Ora, por quê? Ele não fez mais do que sua obrigação. São fruto dessa mentalidade tacanha nossos políticos, via de regra.</span></div>
<div align="justify"><span style="font-family:Arial;">Tenho certeza, falando de nossos políticos, que se o Brasil tiver decência e vergonha na cara e diminuir os custos que cada deputado dá aos cofres públicos, Brasília ficará entregue às moscas. Apenas aqueles que fazem a coisa certa pelo motivo certo continuarão atuando, sem querer mamar nas tetas do Estado. O problema é óbvio: os nossos ilustres deputados e senadores terão a dignidade de cortar suas regalias? Não. E assim seguimos todos, a maioria precisando trabalhar para honrar seus compromissos, e a minoria, porque está a "serviço do povo", com inúmeros privilégios. Há 36 anos ouço que o Brasil é o país do futuro. O problema é que o futuro nunca chega. Não tenho mais o ânimo e o entusiasmo de meu pai, que ainda luta e acredita em dias melhores; eu cansei.</span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-3933011793525159052011-11-02T12:30:00.002-02:002011-11-02T13:18:15.133-02:00O que dizer?<div align="justify"><span style="font-family:arial;">Todo Brasil, e em especial a sociedade civil fluminense, se solidarizou com as cidades serranas atingidas pelas tempestades que as arrasaram no início do ano. Nada mais natural para qualquer pessoa do que estender a mão para quem perdeu tudo e necessita de ajuda. Palavras como solidariedade, ajuda, caridade, apoio, altruísmo saíram dos dicionários e foram postas em prática. Tudo em prol do próximo que, atingido por um catástrofe natural, não tinha a quem recorrer. Mas, infelizmente, nem todos compactuam desse esforço filantrópico. É claro que não estou a cobrar que todos façam doações, que ponham a mão na massa e trabalhem como voluntários desinteressados sempre que alguém necessite de ajuda. Não, não é isso. Mas o que dizer do prefeito de Teresópolis? O Sr. Jorge Mário Sedlacek teve seu mandato finalmente cassado após desviar verba destinada à reconstrução da cidade. Não sei quanto ganha mensalmente o prefeito de Teresópolis, mas tenho certeza de que é suficiente para se viver com conforto e dignidade, sem necessitar recorrer a atividades espúrias. Depois de se eleger pelo voto direto da população de Teresópolis, de se comprometer a trabalhar em benefício de sua cidade, os recursos que deveriam amenizar o sofrimento das vítimas das chuvas de janeiro engordavam a conta bancária do senhor Jorge Mário. Não esqueçamos seu nome: <strong>Jorge Mário Sedlacek</strong>.</span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-53358977826873049472011-11-01T14:23:00.004-02:002011-11-01T15:05:10.004-02:00Promovido<div align="justify"><span style="font-family:arial;">Se eu for escrever sobre cada coisa que me causa algum tipo de descontentamento, indignação, revolta, etc., vou passar o dia me ocupando do blog e não terei mais tempo para nada. Mas como não mencionar a promoção que o então capitão da PM Bruno Schorcht recebeu, subindo sua patente para major? Para quem não se lembra, durante manifestação de moradores do Morro do Bumba, em Niterói, que não recebiam o aluguel social depois da tragédia que os acometeu, os policiais Bruno Shorcht e D'Angelo de Matos Pinel foram flagrados jogando spray de pimenta em crianças. Sim, em crianças! O primeiro agora já é major; o então soldado D'Angelo também deve aguardar promoção? </span></div>
<div align="justify"></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-29453102454426360352011-10-31T11:27:00.004-02:002011-10-31T15:21:25.937-02:00Tudo ao contrário<div align="justify"><span style="font-family:arial;">Após presidir a CPI das Milícias e, com isso, indiciar cerca de 220 pessoas, Marcelo Freixo, deputado estadual pelo PSOL, tem sofrido ameaças de morte. De acordo com notícia publicada hoje no JB, Freixo deve deixar o país ainda nesta terça-feira, com destino desconhecido para preservar a sua segurança. Li a matéria e fiquei me perguntando se não está tudo ao contrário. Quem deveria fugir, numa sociedade que funcionasse (muito diferente da nossa), seriam os milicianos, não o deputado. Os bandidos, com medo da prisão, deveriam se por em fuga, deixando para trás a possibilidade de verem a justiça ser feita, ou seja, de perderem sua liberdade e cumprirem penas duras. Mas, mesmo quando criminosos, no Brasil, são indiciados, julgados, condenados e presos, devido a privilégios como a visita periódica ao lar, a saída por bom comportamento, independente de sua periculosidade, e o regime semiaberto, os detentos encontram facilidades de fuga e regalias na cadeia, sem falar dos crimes que são orquestrados e cometidos de dentro do próprio presídio. Sei que nossas penitenciárias não fornecem condições mínimas para um homem que tenha errado e precise quitar seu débito com a sociedade se regenere, mas isso não deve ser justificativa para a bagunça que muitas vezes é noticiada pela imprensa - sem falar das que não o são. </span></div>
<div align="justify"><span style="font-family:Arial;">Marcelo Freixo teve a coragem necessária para enfrentar o problema da milícia, mas parece que, por falta de segurança e inoperância do poder público, ele vai pagar caro por isso. Que, pelo menos, ele não tenha o mesmo fim que a juíza Patrícia Acioli, e que possa retornar ao país, com segurança garantida pelo Estado, para dar continuidade a sua atuação política. No Brasil, os mocinhos fogem - ou são mortos - e os bandidos permanecem perturbando a ordem.</span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4911940957772009227.post-76177156214154633552011-10-28T13:53:00.001-02:002011-10-28T14:34:24.158-02:00Maconha na USP<div align="justify"><span style="font-family:arial;">Boa tarde, sejam bem-vindos! </span></div>
<div align="justify"><span style="font-family:arial;">Observando a vida e o que acontece ao meu redor, venho agora registrar minhas opiniões de uma maneira mais explícita. Devo dizer, antes que você decida prosseguir, que muitas vezes sou um cara bastante ranzinza, mal-humorado, crítico e nada orgulhoso de meu país. Também sou, por outro lado, alegre, jovial, justo e, principalmente, pai de duas princesinhas lindas. Mas aqui as princesinhas não terão muita vez não. Nem minhas considerações acerca da minha vida cultural. Aqui quero colocar a boca no trombone, reclamar, aliviar minha (futura) hipertensão. Aqui a primeira pessoa é outra.</span></div>
<div align="justify"><span style="font-family:Arial;">E o tema que me motivou a abrir este novo blog foi noticiado pelo Jornal Hoje, agora à tarde. Fazendo a digestão de meu saboroso almoço, vi na tevê alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, simplesmente a maior universidade do Brasil, se revoltarem contra a polícia e ocuparem a reitoria porque três alunos teriam sido detidos por posse de maconha. Os demais alunos, indignados com a apreensão, entraram em confronto com a polícia e afirmaram só desocupar a reitoria depois que a PM abandonar a segurança que promove no campus. Como assim? Fiquei me perguntando por que diabos os alunos não querem a PM por perto. Seria para poder fumar maconha em paz? Eu não tenho nada contra quem fuma maconha nem contra a maconha, eu mesmo já fui graduando e já, como boa parte dos jovens fazem - e aparentemente todos os alunos da referida faculdade - enrolei meus cigarrinhos. Nada demais. Acontece que nem todo mundo pensa assim. E, falando em leis, a do nosso país considera a maconha uma erva ilegal. Ou seja, gostando ou não, concordando ou não, é ilegal fumar maconha. Podemos até questionar se os usuários devem ser apreendidos, se não seria mais racional a polícia se preocupar em prender os traficantes, deixando os pobres estudantes para lá, dando um dois sem muita importância. Que se faça, então, a passeata em favor da liberação da maconha, que se elejam representantes dispostos a debater o assunto, mas exigir que a polícia abandone o campus da universidade é demasiada estupidez. É certo, todos sabemos disso, que a polícia em nosso país não tem muito crédito, é corrupta e muitas vezes se confunde com os bandidos, mas ela ainda é a responsável por nossa segurança. Abrir mão da PM no campus não seria uma carta branca para que toda sorte de delitos sejam cometidos na USP? Não seria, em clara manifestação de apoio, concordar com assaltos, estupros, latrocínios? E isso para que os universitários possam fumar maconha sem serem infortunados? </span></div>
<div align="justify"><span style="font-family:Arial;">Eu sei que essa discussão não é simples. A questão da droga esbarra em muita coisa, a da segurança também, mas quero crer que é preferível um campus bem policiado, para que o corpo discente se preocupe apenas com o que é relevante, a saber, a construção de conhecimento que deve ser oferecido por qualquer universidade, a deixar que a recreação emaconhada de uns poucos coloque em alerta toda a população do campus. Como diria um grande amigo meu: "Francamente!"</span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com1