domingo, 15 de fevereiro de 2015

Sempre tem o mais fraco


Há cerca de três ou quatro anos, a vizinha do apartamento de cima se refugiou aqui em casa para escapar de mais uma surra que seu então marido iria lhe dar. Oferecemos todo apoio possível, ela não apanhou naquele dia e, parece-me, não mais, haja vista que se separou do agressor. Mais um dentre tantos casos de uma "minoria" mais fraca que sofre com a covardia do mais forte. Mas sempre há aquele que é ainda mais fraco. 
Soube ontem pela subsíndica que a tal vizinha protagonizara mais um caso de covardia, mas agora como agressora. Ela, ao entrar no edifício, se indignou porque nossa empregada doméstica negra e grávida estava sentada num dos bancos da portaria de short e com a barriga de quase oito meses de fora. Ela não poderia estar ali, muito menos, no calor do Rio de Janeiro, trajando um short e uma camiseta. Nossa empregada, segundo a subsíndica, fora confundida com uma moradora de rua e tratada como tal, o que evidencia o tratamento diferenciado que as pessoas sofrem a depender de status social e raça. Talvez, na cabeça de minha vizinha, negros só possam ser desabrigados, quando muito favelados. 
A subsíndica, que me contava tudo muito constrangida, também estava com um short jeans curtíssimo e de camiseta, fato observado por mim. Mas é branca, o que faz toda diferença do mundo. Posicionei-me, disse que não toleraria discriminação racial ou de qualquer outra ordem e tranquilizei nossa empregada contra qualquer possível futura atitude racista. 
Há quem ache que mulher pode apanhar porque seria subserviente; há quem associe negro a moradores de rua e ainda se acha no direito de humilhá-lo; eu acho que todas as agressões são da mesma quadrilha.