sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Dois breves comentários pontuais sobre as manifestações

De junho para cá, as manifestações tomaram conta do país e seguem com força, principalmente no Rio de Janeiro. O povo não estava interessado apenas na revogação do aumento de 20 centavos nas passagens dos transportes públicos. Seu interesse ia - e vai - além, mesmo que os 20 centavos tenham sido apenas a gota d'água. Cientistas políticos e sociais e intelectuais de um modo geral buscaram compreender o fenômeno, mas não conseguiram, ainda hoje, de modo satisfatório. E na incompreensão, muita gente opinou. Uma das teorias mais correntes era a de que os Black Blocs e o Anonymous não passavam de grupos fascistas, interessados ou num golpe militar ou na desmoralização do PT para a retomada do poder, nas próximas eleições, pelo PSDB.
Sobre um possível golpe militar orquestrado pelos jovens vândalos, porque mascarados, acredito que não há mais quem sustente essa hipótese, tamanho o absurdo. Mas se o tópico é ditadura, vamos pensar sobre o que ocorre aqui no Rio de Janeiro de uns meses para cá. A polícia militar, a cada dia que passa, sob o comando do governador Sérgio Cabral, a pretexto de manter a ordem nas ruas, tem reprimido violentamente qualquer manifestação que se oponha ao governo. Ruas são fechadas e nem mesmo moradores podem escolher o percurso que lhes convém para chegar em casa. Isso aconteceu no Leblon - quando a polícia militar estava claramente protegendo bens privados - e em Laranjeiras, bairro sede do Palácio Guanabara - isso para não falar no casamento da Dona Barata e no recente fechamento da Cinelândia (!). Não apenas o direito de ir e vir da população foi cerceado; seu direito de se manifestar, de demonstrar descontentamento com a política atual e de fazer, portanto, oposição também foi extinto. Nas manifestações, bombas de efeito moral, de gás lacrimogêneo, balas de borracha, cassetetes e spray de pimenta (em alguns casos munição letal também), em grande quantidade e de forma covarde e arbitrária, são utilizados para que os manifestantes não se manifestem; policiais se misturam ao povo para iniciar confusões e criminalizar os protestos; pessoas são presas arbitrariamente, sem qualquer justificativa; "provas" são forjadas para justificar detenções; advogados são impedidos de trabalhar e impedir que jovens sejam injustamente encarcerados; a mídia alternativa é igualmente perseguida e ameaçada para que não registre a truculência empregada pela polícia de Cabral; e a grande imprensa ou se cala ou manipula as informações. Quem presenciou o que acontece quando o Batalhão de Choque se dispõe a cumprir as ordens do governador, seja pela imprensa alternativa seja nas próprias manifestações, tem a certeza, hoje, de que não havia risco de ditadura - ela já existe. Vivemos hoje um Estado de exceção, sem sombra de dúvida. E muita gente se mostrava contrária aos protestos receosos de reviver os anos de chumbo da ditadura militar, talvez ajudando e fortalecendo o governo, mesmo que indiretamente. 
Quanto ao segundo tópico - a retomada do poder pelo PSDB -, não tenho muito o que dizer, exceto o que me parece óbvio. Em primeiro lugar, se realmente houvesse, no meio da multidão, partidários da direita e simpatizantes dos tucanos, por que isso deslegitimaria os protestos? Numa democracia todos têm o direito de se manifestar, ou não? Por que o PT deveria estar a salvo de qualquer crítica que lhe fosse feita? Devo acreditar que o país, graças ao Partidos dos Trabalhadores (nome hoje irônico para a estrela vermelha), está tão bom que seria um gesto de vandalismo se posicionar de forma contrária? E mesmo que estivesse, a oposição deveria ser banida? Qual o nome que se dá a isso? A meu ver, deveria ser feito um mea culpa pelos defensores do PT e o porquê de suas ressalvas às manifestações. Não acredito que a maioria das pessoas nas ruas eram de direita, embora elas também pudessem estar presentes, mas para quem defendia que o povo na rua equivalia a uma desmoralização do PT, o que respondo é que, infelizmente, foi o próprio PT que se desmoralizou. Quando finalmente Lula chegou ao poder, o Brasil teve a grande chance de se firmar como um país de esquerda, mas não foi isso o que ocorreu. As alianças equivocadas assumidas em nome da governabilidade atendiam a quais interesses? E de quem? Enumerar as causas do desgaste que o PT sofre por causa de suas escolhas seria cansativo e desnecessário, todos já sabem o que há de errado - e não me refiro ao mensalão. Para ficar apenas no Rio de Janeiro, como a presidente Dilma ainda não se pronunciou diante da barbárie que vem sucessivamente sendo cometida aqui? O que o Mercadante espera para dar um nota que seja sobre o que o Eduardo Paes e o Sérgio Cabral estão fazendo com a Educação?
Para finalizar, aviso ao petistas, que temiam a volta do tucanato, para não se preocuparem: em São Paulo, por exemplo, Alckmin também foi e é alvo de protestos. Chegou a hora de entendermos, todos, que a luta não é contra um ou outro partido - a luta é contra o sistema, que continua privilegiando uma parcela ínfima da sociedade, a mesma que detém o capital. O que queremos é um governo que seja, de fato, preocupado com o povo, com o trabalhador. Mais, preferencialmente que estes trabalhadores - e não políticos profissionais, filhos da burguesia e perpetuadores do status quo - cheguem ao poder. Acredito que esteja na hora de substituirmos o capitalismo, que já demonstrou toda a sua iniquidade. Que venham Educação, Saúde, Transportes, Segurança, Moradia, Habitação, Alimentação padrão Fifa. Trocamos os suntuosos estádios de futebol por saúde e educação para começar. 

2 comentários:

  1. O problema é q tem muita gente q acha q vai conseguir resolver alguma coisa quebrando tudo... a policia nao pode deixar correr frouxo

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    1. Tereza, realmente a polícia não tem deixado correr frouxo. Ela tem batido em todo mundo, homens, mulheres, idosos. Até crianças já sofreram com as bombas de gás. Professores, mais recentemente, que não pensavam em quebrar nada, também foram agredidos covardemente.

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