sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Cansaço

A lembrança mais remota que eu tenho sobre política remonta à abertura política do país e à campanha Diretas Já. Ainda criança, não tinha real dimensão do que estava acontecendo, mas sabia que era alguma coisa muito importante. Isso porque meus pais acompanhavam tudo o que acontecia com duas televisões ligadas na sala em canais diferentes para não perder detalhe algum. Sentia-me importante assistindo à votação indireta que elegeria Tancredo Neves nosso novo presidente após anos de ditadura militar, e ouvindo com atenção os comentários de meu pai.
Alguns anos depois, a eleição que primeiro recebeu minha participação, apesar de ainda não ter idade para votar, foi a que Lula saiu derrotado pelo Collor. Com quinze anos de idade, lamentei não poder votar no Lula, mas militei como pude a seu favor. Eu e todas as pessoas que, na minha opinião, tinham bom senso.
Já na faculdade, dei aulas voluntariamente durante cinco anos em presídios porque acreditava que a educação era uma arma poderosíssima para mudar não apenas a realidade dos apenados, mas a realidade de toda a nossa sociedade. Assim, ingressei em um projeto político, porém não partidário, coordenado pela Regina Brasil, que visava, mais do que ensinar o conteúdo programático aos detentos, levar cidadania e reflexão aos alunos. Foi lá, inclusive, que conheci o Marcelo Freixo, então professor de História.
Foi ele, aliás, quem recebeu meu único voto nas últimas eleições. Para os demais cargos, não tive dúvidas quanto à anulação. Minha mais que curta atuação política já se cansou e se desiludiu com os nossos políticos de um modo geral. Sei que não se pode generalizar, que não dá para dizer que todos os políticos são corruptos, safados e filhos da puta - o Marcelo Freixo, a meu ver, é prova disso -, mas, convenhamos, fica difícil. Como fica difícil também entender como "eles" continuam sendo eleitos. Muitas vezes, dependendo de meu humor, acredito que a população merece passar pelo que passa, afinal, foi ela que colocou no poder nossos governantes. O problema, claro, é que a minoria se dá mal por tabela.
Faço essa retrospectiva porque estou cansado. Cansei de votar, de acreditar, de ter esperanças. Honestamente, acho meu país uma vergonha. Não tenho nenhum orgulho de ser brasileiro, ao contrário, sinto vergonha. É um país lindo etc. e tal, mas e daí? Já não deu tempo para sua população querer deixar de ter vantagem em tudo? Já não é hora de olharmos para o lado e pensarmos no bem-estar coletivo? Até quando vamos seguir acreditando que se a farinha é pouca, meu pirão primeiro? Penso que na realidade nossos governantes espelham o que é nossa sociedade. Não é muito difícil encontrar, em qualquer esquina, um brasileiro que não pense primeiro em si. Acho que é por isso, inclusive, que quando alguém devolve o troco, ou uma quantia grande em dinheiro que não lhe pertence, passa a ser manchete de todos os telejornais. Ora, por quê? Ele não fez mais do que sua obrigação. São fruto dessa mentalidade tacanha nossos políticos, via de regra.
Tenho certeza, falando de nossos políticos, que se o Brasil tiver decência e vergonha na cara e diminuir os custos que cada deputado dá aos cofres públicos, Brasília ficará entregue às moscas. Apenas aqueles que fazem a coisa certa pelo motivo certo continuarão atuando, sem querer mamar nas tetas do Estado. O problema é óbvio: os nossos ilustres deputados e senadores terão a dignidade de cortar suas regalias? Não. E assim seguimos todos, a maioria precisando trabalhar para honrar seus compromissos, e a minoria, porque está a "serviço do povo", com inúmeros privilégios. Há 36 anos ouço que o Brasil é o país do futuro. O problema é que o futuro nunca chega. Não tenho mais o ânimo e o entusiasmo de meu pai, que ainda luta e acredita em dias melhores; eu cansei.

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